1. Rui não tinha barba. Ou: dar água pela barba. Mas imaginemos que o nosso amigo Rui, que vimos sempre com longas barbas, nos surpreende, todo rapado. Podemos, aí, dizer que ele já não tem barbas. Perguntamos, muitas vezes: ele não tinha barbas? O contexto é que define qual a expressão preferível.
2. Quando procuramos «modo» em trabalhos sobre narratologia, podem remeter-nos para «focalização» ou «ponto de vista», ou, ainda, para «representação do discurso». São diligências insuficientes na definição de um género, e mais se, como alguns defendem, o conto se aproximar da circularidade lírica. Donde, este, podendo conter em si, dominante ou não, um «modo narrativo», é, na designação mais simples, um género narrativo. Com mais propriedade, se considerarmos as três grandes cúpulas – épico ou narrativo, lírico e dramático –, o conto é um subgénero narrativo, paralelo à novela e ao romance. Note-se que podemos ter «modo» narrativo num poema, p. ex., e só com algum esforço lhe chamaríamos conto. Mesmo recorrendo ao que, na Poética aristotélica, são os modos da mimese (directo ou teatral, indirecto ou narrativo)... Fique a reflexão por aqui.
Cf. Rir de nós próprios: 18 expressões portuguesas que não fazem sentido nenhum.