A distinção entre os dois tipos de texto em apreço não é fácil. São ambos tipos de texto em que prevalece a função referencial, ou informativa. Mas em que momento e a partir de que elementos podemos distinguir um texto técnico de um científico? Provavelmente temos de nos centrar um pouco na “cientificidade”, ou especialização, de um texto.
Por exemplo, um artigo sobre uma nova cura para determinada doença que sai numa revista de grande tiragem é um texto científico? É, certamente, um texto de divulgação científica. Mas não é nem um texto técnico, nem um texto científico.
E se esse artigo estiver incluído num manual para estudantes de medicina ou de enfermagem? Antes de mais, terá a mesma linguagem? Estou certa de que não! Será um texto científico? Ou será um texto científico e, simultaneamente, técnico? Tem certamente muito de científico, mas deverá ter algo de técnico, com elementos que permitam ao aprendiz de médico ou de enfermeiro reconhecer a forma como a nova cura actua e evolui…
E, já agora, se o artigo for apresentado numa conferência internacional dedicada à inovação no âmbito da medicina? Neste contexto, escrito por especialistas para especialistas, estaremos, certamente, perante o texto científico mais puro. A questão coloca-se se ainda será, ou se também será, um texto técnico.
Do exposto poderá concluir-se que, mesmo tratando de áreas muito específicas do saber, nem todos os textos têm um cariz científico ou especializado, e essa especialização vai-se afunilando à medida que o destinatário se torna, também ele, mais especializado.
Será que o percurso do texto técnico é semelhante? Será que é apenas um texto dito utilitário? Quando compramos um aparelho novo, as instruções que o acompanham são um texto técnico? Correspondem, sem dúvida, a um texto para o grande público, mas não me parece que, contrariamente ao que acontece com o texto científico com as características referidas acima, se possa dizer que se trata de um texto de divulgação. Mas não haverá textos de divulgação sobre aquele aparelho? E o estudante que está a aprender a fazê-lo, ou o técnico que o pode arranjar, tem acesso a que tipo de textos? E o engenheiro que concebe e transforma os aparelhos, a que tipo de textos tem acesso, que tipo de textos produz?
Voltando ao texto científico apresentado numa conferência internacional, que considerámos o mais científico dos textos que abordam uma área da ciência, não será também um texto técnico, dado que aborda, potencialmente, técnicas de cura?
Em síntese, parece-me muito difícil distinguir, assim, “en passant”, texto técnico de texto científico. Creio mesmo que essa abordagem pode ser falaciosa. Há, porém, características que permitem identificá-los e isolá-los de outros tipos de textos:
São ambos textos informativos;
São ambos escritos por especialistas;
Assumem ambos estilos e linguagens distintas consoante o público a que se destinam, sendo mais herméticos se o público-alvo é também especialista da área.
Para além disso, um texto técnico, do meu ponto de vista, veicula informação que permite o “manuseio” de um certo tipo de conhecimento, que não está, necessariamente, separado do conhecimento científico.