Não podemos explicar todas as estruturas da língua, que nos parecem estranhas, invocando uma evolução histórica ou uma questão estilística. Embora se verifiquem bastantes exemplos destes na Língua Portuguesa, a estrutura em causa não é, certamente, um deles. O livro de João Andrade Peres e Telmo Móia faz, de facto, uma análise a estas estruturas. Trata-se, contudo de uma análise extremamente superficial, pois é meramente semântica (analisa as relações de significado entre os elementos das frases), não tendo em conta a estrutura sintáctica da frase (a função que cada elemento desempenha dentro da frase.). É precisamente nesta última que reside a explicação para o facto de não podermos utilizar expressões como Necessito de que...
Os verbos precisar e necessitar são uma excepção. Ao contrário dos outros verbos transitivos, que, normalmente, atribuem Caso acusativo ao seu complemento, estes dois verbos não o fazem. Por isso, numa frase como:
Eu preciso [de um automóvel.
Eu necessito [de um automóvel.
A preposição de tem a função de marcador Casual preposicional do complemento directo, que tem um núcleo nominal. Se retirarmos a preposição da frase, esta torna-se agramatical, uma vez que, como já foi referido, os verbos precisar e necessitar não atribuem Caso.
*Eu preciso[ um automóvel.
*Eu necessito[ um automóvel.
Se o complemento directo é uma oração finita, então a preposição não é necessária porque não tem uma função para desempenhar na frase, dado que nas orações finitas não há atribuição de Caso, pelo facto de o seu núcleo ser uma frase complexa e não um sintagma nominal. Como são exemplos:
Eu preciso [que me emprestes um automóvel.
Eu necessito [que me emprestes um automóvel.
* Eu preciso [ de que me emprestes um automóvel.
*Eu necessito [ de que me emprestes um automóvel.
N.E. – Esta pergunta já teve uma resposta, mas parece-nos que esta pode acrescentar mais alguma coisa ao que já foi escrito.