«Tem de se avir comigo» + «em de se haver comigo»
Numa resposta sobre «ter a ver/ que ver com» (= ter relação com), ao refutar a forma *«ter a haver com», a Dra. Edite Prada dá conta dos usos destes 2 verbos, apresentando exemplos extraídos de vários corpora linguísticos, entre os quais figura uma abonação da suposta expressão *«ter de se haver com alguém», conforme transcrevo:
«b) Surgem quatro exemplos com ter de se haver, no sentido de ter de prestar contas:
(8) «A própria FAYAL COAL teve de se haver comigo nos fornecimentos de carvão.»
Sei que o assunto então em causa era outro, mas aproveite-se agora para desfazer a confusão neste idiomatismo, pois o erro é bastante vulgar (proximidade fonética? Confusão com as contas do «deve e haver»?...).
Com o sentido de «tirar satisfações com alguém», «ter de prestar contas a», «entender-se com», «governar-se», «orientar-se», «ajustar-se», os dicionários (por ex., o da Academia) registam «avir»/ «avir-se» (lembra o Dicionário de Verbos, de Ana Guedes e Rui G., D. Quixote, que a regência usual é "avir-se com"). Por ex.:
1. Se continuas assim, tens de te avir comigo.
2. Eu não me meto na discussão. Eles que se avenham!
Mesmo que pareça parco de formas, a conjugação é regular – como o "vir", nota o DLP Aurélio Séc. XXI – e não autoriza qualquer confusão com um uso reflexivo de "haver"... Se se mantém vivo em expressões fixas, esse seu uso familiar e popular atesta a forte tradição.
Será possível esclarecer a origem desta incorrecção? Como surge tal troca, inclusivamente em textos escritos, em jornais...?
Agradeço a vossa resposta.
