Subir para cima e descer para baixo são pleonasmos. O pleonasmo é a repetição duma ideia pelo emprego duma ou mais palavras, cujo sentido já está expresso anteriormente, como nas expressões apresentadas. Há quem condene incondicionalmente o pleonasmo, o que não está certo. O pleonasmo é uma figura de sintaxe que não raro convém empregar como reforço para se conseguir vigor, expressividade mais intensa, maior clareza e para impressionar mais fortemente o receptor. Suponhamos que determinada pessoa está fora da cidade e diz o seguinte:
1) "Ai!, se tu visses há bocadinho o teu cão a correr atrás do meu gato... o cão ladrava e o gato corria, corria... até que o cão estava quase a deitar-lhe a dentuça! O que valeu foi aparecer ali uma árvore! O meu gato sobe por ali acima... e safa-se da dentuça do cão!"
Temos aqui um pleonasmo em sobe por ali acima. É um pleonasmo de estilo, que nos dá a visualização do movimento rápido do gato a subir. Bendito pleonasmo, este!
Aqui vai outro muito vulgar e bem dito:
2) "O quê, tu dizes-me isso a mim?"
É claro que não devemos dizer subir para cima nem desce para baixo. Mas suponhamos uma situação em que um rapaz, por exemplo, está em grande perigo e o pai lhe grita com voz forte e imperativa:
3) "Ó rapaz, desce já para baixo!"
Suponhamos que, na frase 2, o falante suprimia a mim para evitar o pleonasmo. Deixaria de estar expressa a sua indignação.
E se, na frase 3, o pai suprimisse para baixo? Onde ficaria expresso o amor do pai ao filho?
O nosso Camões, grande em tantos aspectos, também empregou um pleonasmo n'«Os Lusíadas», na estância 18 do Canto V:
«Vi, claramente visto, o lume vivo
Que a marítima gente tem por Santo.»