DÚVIDAS

Sobre regências

Em algumas frases ocorre a coordenação de verbos de regências diferentes – como os exemplos abaixo – parece-me eufônico e sintaticamente correto usar a preposição regida pelo verbo mais próximo. Nas duas primeiras frases, os verbos “incluir” e “excluir” regem as preposições “a” e “de”, respectivamente; nas duas últimas, os verbos “tirar” e “acrescentar” regem “de” e “a”.

1 – Use os botões para incluir e excluir campos do critério de ordenação.
2 – Use os botões para excluir e incluir campos ao critério de ordenação.
3 – A cerveja e o refrigerante são bebidas das quais não se pode tirar ou acrescentar açúcar.
4 – A cerveja e o refrigerante são bebidas aos quais não se pode acrescentar ou tirar açúcar.

As adequações sugeridas por alguns gramáticos – em situações como «Não me caso com quem não tenho confiança», «Não me caso com aquele em quem não tenho confiança» – jamais serviriam aos exemplos anteriores. Não encontrei explicação específica sobre isso nas boas gramáticas descritivas de nossa língua. Gostaria de saber a vossa opinião sobre o uso da preposição regida pelo verbo mais próximo; e se existem teorias sobre o assunto.

Resposta

Concordamos basicamente com as observações feitas à utilização das preposições. Analisemos agora os casos propostos.

As preposições são palavras de ligação. Têm origem nos advérbios e, por isso, indicam a origem do movimento, o destino do movimento, o local, a posição relativa, etc.

Também os prefixos apresentam estas características: incluir contém a ideia de movimento para dentro, e excluir contém a ideia de movimento para fora.

Na frase n.º 1 – «Use botões para incluir e excluir campos do critério de ordenação» –, a preposição de contida na contracção do não depende da regência verbal.

Apresenta-se-nos como determinativo de “campos”. Explica a que tipo de campos nos referimos.

A frase n.º 2 – «Use botões para excluir e incluir campos ao critério de ordenação» – não nos parece adequada.

Proporíamos, neste caso:

«Use os botões para incluir campos ao (ou no) critério de ordenação ou para excluir campos do critério de ordenação.»

A frase será mais longa, mas respeitará as regências dos verbos incluir (movimento para dentro ou para um local) e excluir (movimento para fora).

As frases 3 e 4 contêm o verbo tirar, que rege normalmente a preposição de. Exemplo: «Ele tirou a cerveja do barril.» A preposição de indica a origem do movimento e introduz o complemento circunstancial de lugar de onde.

No entanto, é possível utilizarmos o verbo tirar seguido da preposição a, quando indicamos o complemento de objecto indirecto. Exemplo: «Ele tirou a cerveja ao barril.»

Se alterarmos a posição dos elementos, obteremos uma frase com a seguinte estrutura:

«Não se pode tirar nem acrescentar açúcar à cerveja ou ao refrigerante.»

Neste caso, os verbos tirar e acrescentar terão como complemento objecto directo o açúcar e como complementos objectos indirectos a cerveja e o refrigerante precedidos da preposição a.

Julgamos que devemos tirar três conclusões:

Primeira – é conveniente evitarmos as orações relativas porque estas tornam muito mais difícil a utilização das preposições.

Segunda – as preposições a e de têm várias utilizações, e, por isso, devemos utilizá-las da maneira que nos parece mais conveniente para cada caso concreto.

Terceira – não devemos sintetizar quando é preferível usarmos um discurso um pouco mais longo, mas mais esclarecedor.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa