Devo dizer que acho a sua dúvida deveras interessante e partilho da sua perplexidade. A verdade é que, ainda que sejam desnecessárias, as formas do verbo poder no imperativo estão atestadas em português.
O dicionário de verbos conjugados que possuo (Dicionário Dom Quixote dos Verbos da Língua Portuguesa, de Ana Maria Guedes e Rui Guedes) apresenta as formas do imperativo (afirmativo) do verbo poder: (tu) pode, (você) possa, (nós) possamos, (vós) podei, (vocês) possam. Este dicionário não apresenta as formas do imperativo negativo, que no entanto sabemos serem as do presente do conjuntivo: (tu não) possas, (vós não) possais.
O mesmo sucede com o Dicionário de Verbos Portugueses da Porto Editora, disponível em linha através da Infopédia. A Mordebe fornece as formas afirmativa e negativa do imperativo no quadro das flexões do verbo poder.
Admite-se, portanto, o uso do verbo poder no imperativo, ainda que essas formas não pareçam ter na sua essência uma ordem, como afirma o consulente. Com efeito, trata-se de um modo que dificilmente encontramos em uso pelos falantes — sobretudo porque o verbo poder é essencialmente utilizado como auxiliar modal, para exprimir capacidade, possibilidade, etc., por exemplo, na frase «Eles podem vir connosco».
Nesse tipo de contexto, de facto, o verbo poder parece dispensar das formas do imperativo.
Contudo, nada impede um falante de dizer «Pode lá vir comigo!», quando pede a outro que tenha a possibilidade de o acompanhar. Por outro lado, como verbo pleno, poder tem diversos significados que também permitem a sua utilização no imperativo. Aqui ficam, nesse sentido, alguns exemplos:
a) v. poder = ter força, autoridade, poder. Ex.: «Podei, pois Deus assim o quis!»
b) v. poder = ter capacidade para mudar, vencer algo. «Possamos todos juntos, para bem do planeta!»
c) v. poder (+ prep. com) = suportar o peso, a carga. «Vá, pode lá com isso tudo, senão tens de fazer duas viagens.»
Como se pode constatar, estes exemplos são bastante artificiais e mostram que, efectivamente, ainda que tenham essa possibilidade, os falantes raramente fazem uso das formas imperativas do verbo poder.
Nota: Como se depreende da resposta, as formas podai e "possai" não pertencem à flexão de poder. Podai é a forma de segunda pessoa do plural do imperativo do verbo podar, e "possai" é simplesmente agramatical, porque não existe o verbo "possar".