Com a devida vénia, eis a opinião do Dicionário Houaiss a respeito deste crítico assunto:
« não-: elemento compositivo, antepositivo, seguido de hífen; Gonçalves Viana (1931) só regista não-filho s. m. e não-me-deixes s. m. “planta ornamental”; Rebelo Gonçalves (1956) regista nove voc. com essa form., todos subst. masc., o V. O. (1981) regista mais de 50 voc. com essa form., incluindo subst. masc., subst. fem. e adj.; a explosão, em port., dessa averbação é seguramente provinda da prática que está modernamente a ocorrer (depois de 1945) em fr. e ing., em que o el. “non” é vivido como pref. lat., sem conexão semântica e morfológica com os recursos de negação das línguas em causa; a rigor, em port., “um tratado de não agressão com a Argentina” ou “um tratado de não-agressão com a Argentina”, “o género não animado em latim arcaico” ou “o género não-animado em latim arcaico” e quejandos demandam dificilmente a compactação morfológica do hífen por motivos funcionais ou semânticos; tal compactação parece mais acentuada no modelo não + subst. do que no modelo não + adj.; por outro lado, no modelo não + verbo ela praticamente inexiste; de qualquer modo, a questão parece mais estilística do que gramatical; é dentro dessa carência de delimitação que o usuário da língua port. (e os seus lexicógrafos) tem de compadecer-se com sua convenção ortográfica; na prática, assim, há larga margem de decisão pessoal, de sabor especialmente estilístico, entre um objecto e um não objecto ou um não-objecto, entre uma coisa e uma não coisa ou uma não-coisa, em suma, entre um substantivo x e um não x ou um não-x; o que se diz, aí, de um subst. da língua, diz-se de todos e tb. de adj. (é um feliz achado, é um não feliz achado e é um não-feliz achado); generalize-se para com as demais partes do discurso, ver-se-á que a elaboração moderna pede mesmo essa matização conceptual, que a enriquece, por certo; p. ex., entre valorização e desvalorização, há matizações semânticas exprimíveis por valorização, não valorização, não-valorização, não-desvalorização, não desvalorização, desvalorização (sem contar com usos quantificadores outros, com sem e quase – com individualidade de pal. dicionárias e assim com hífen ou sem hífen – e com palavras prefixos – sem tal individualidade – do tipo supra-, infra-, super-, infer-, mini-, midi-, maxi-, semi-, hemi-, multi-, pluri- etc.); o usuário é árbitro para fixar-se em a não desvalorização e a não-desvalorização; o lexicógrafo, porém, não se sentirá compelido a dar tratamento de verbete autónomo a cada ocorrência desse tipo.»
Não sei se ficou esclarecido, não esclarecido ou não-esclarecido.