Na área da formação de palavras, verificamos que existem lacunas e preferências que são permitidas e impostas pela língua. Isto é, uma formação possível segundo um determinado modelo pode ser inaceitável na norma da língua. Por exemplo, no caso dos verbos factitivos em -tar, é possível a formação de substantivos em -ção (ornamentar-ornamentação; fragmentar-fragmentação; sedimentar-sedimentação), mas em aumentar atormentar ou comentar, já não é possível aplicar tal processo. Isto para dizer que há certos fa{#c|}tos na formação de palavras que escapam a qualquer previsão ou regularidade. Veja-se por exemplo o caso da formação de adjectivos a partir de nomes de pessoas: quixotesco (de Quixote) ou cidesco (de Cid). Porém, se tentarmos fazer o mesmo exercício com Soares («governo *soaresco»), Gonçalves («período *gonçalvesco») ou Salazar («época *salazaresca»), verificamos que estamos perante uma impossibilidade, optando preferencialmente o português pelo afixo -ista ou, no que se refere a Salazar, também por -ento. Nesta linha de raciocínio, podemos ainda olhar para o caso dos aumentativos irregulares homenzarrão (de homem), canzarrão (de cão), chapeirão (de chapéu) ou ainda simplacheirão (de simples).
Nota: A este propósito, leia-se o artigo de Mário Vilela A formação de palavras: componente independente ou apenas subcomponente?