A ocorrência de dois se seguidos verifica-se, no Português europeu, quando se registam as seguintes condições:
1 O verbo da frase integra uma oração subordinada condicional, introduzida pela conjunção se;
2 O verbo surge conjugado pronominalmente pelo facto de:
a) se tratar de um verbo reflexo ou pronominal: …se se lava…
b) a construção conter a partícula apassivante se: …se se vê o largo…
c) a construção conter o pronome indefinido se: … se se está bem aqui…
3 O sujeito não vem expresso (1) ou vem depois do verbo, como se pode interpretar que acontece em (2):
(1) «Se se lava» – «Se ele se lava».
(2)«Se se vê o lago» – «Se o lago se vê».
Refira-se que, regra geral, os verbos conjugados pronominalmente, no Português europeu, se conjugam com o pronome colocado depois do verbo:
Lavas-te;
Lava-se;
Verifica-se.
Vê-se
Porém, em determinadas condições, esse pronome é colocado antes do verbo. Uma dessas condições é estar o verbo inserido numa oração subordinada condicional, como acontece nos exemplos indicados pelo consulente. Assim, na sequência dos dois se, cada um tem significado e função diferente:
1 O primeiro é uma conjunção subordinativa condicional que liga a oração subordinada à sua subordinante como acontece nos exemplos seguintes:
«Se chover não saio de casa.»
«Se tiver tempo vou ao cinema.»
«Se te despachares ainda apanhas o comboio.»
2 O segundo é o pronome (reflexo, indefinido) ou partícula apassivante, puxado para antes do verbo pela conjunção se, como o poderia ser pelo advérbio não:
«Faz-se assim.» – «Não se faz assim.» – «Se se faz assim.»
«Vê-se ao espelho.» – «Não se vê ao espelho.» – «Se se vê ao espelho.»
«Vês-te ao espelho.» – «Não te vês ao espelho.» – «Se te vês ao espelho.»