A versão que conheço é «se faz favor também cá se gasta». É verdade, porém, que a versão referida pelo consulente é possível, porque reproduz um tipo de colocação do pronome átono (neste caso, se) em estruturas de negação que se encontra em muitos escritores tanto do século XIX como do século XX. O que acontece é que até hoje, pelo menos na língua escrita, é possível intercalar o advérbio de negação entre o pronome clítico e o verbo, desde que estes três elementos ocorram numa oração subordinada ou depois de qualquer outra palavra que determine a próclise do pronome. Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, pág. 314) referem-se assim a este uso:
«Costumam os escritores do idioma, principalmente os portugueses, inserir uma ou mais palavras entre o pronome átono em próclise e o verbo, sendo mais comum a intercalação da negativa não:
"Era impossível que lhe não deixasse uma lembrança" (Machado de Assis, Obra Completa, I, 563).
"Conformado pelas suas palavras, o tio calara-se, só para não dar assentimento. (Alves Redol, Fanga, 310).
"Há tanto tempo que o não via!" (Luandino Vieira, A Cidade e a Infância, 64).»
Concluo, portanto, que o advérbio cá, à semelhança da negação, também se possa inserir entre o pronome e o verbo. Em todo o caso, trata-se de uma construção arcaica ou literária.