Diz-nos José Pedro Machado, no seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, que «acerca desta palavra continuamos como em 1936: “O étimo de rossio ou ressio não está ainda dado”, L. V. (‘Etnografia Portuguesa’, II, p. 345), que (no mesmo local) acrescenta: “Penso dever buscá-lo [o referido étimo] no adjectivo latino ‘residuus’, remanescente, derivado do verbo ‘resideo’. Há duas aparentes dificuldades: ser breve o i, e estar o s intervocálico representado em português por -ss-, e não por sonorização. A primeira dificuldade resolve-se, admitindo-se que no latim vulgar aquele verbo se cruzou com ‘resido’, seu parónimo e cognato, e que disso proveio ‘*residuu-‘, com i longo, que explica o i de ressio. A segunda dificuldade também se resolve: a sílaba re- pode ter sido considerada partícula viva e separável (cf. resoar – re-soar, resecar – re-secar, etc.), ficando, pois, o s como se fosse inicial e conseguintemente sem sonorização. Por outra, ‘residuus’, com o i de ‘resido’, foi recomposto ‘*re-si(d)uu-’, e s(s) ao contacto de i tornou-se x, nas formas rexio, roxio, do Minho, como é próprio da linguagem popular dessa província. O sentido convém perfeitamente: ainda há em galego resio ‘residuo’; e cf. Mexia, Mexias (arc.): de Messias. A história de ressio ou rossio em português mostra que a palavra significou sucessivamente ‘baldio’, isto é, o que resta por cultivar, ou fica para trás ou fora de terreno cultivado (como também em galego), e terreno que está para trás ou fora de povoação, ou o que está para trás ou fora da casa em que se habita: adjectivo que se substantivou” (cf. também, do mesmo autor, na “Revista Lusitana”, XXXIII, pp. 310-313).»
Rossio (julgo que será a esta grafia que se refere, pois rocio, com c, significa «orvalho; pequeníssimas gotas de água depositadas sobre as plantas e provenientes da condensação, em noites frias, do vapor de água do ar atmosférico em contacto com a vegetação», conforme nos diz o Dicionário da Língua Portuguesa 2003, da Porto Editora) não designa o centro de uma cidade. Segundo este dicionário, rossio tem as seguintes definições: «1. praça pública; 2. terreiro espaçoso; 3. terreno fruído, outrora, em comum, pelos habitantes de uma povoação». Claro que, com o crescimento das cidades, o que dantes era periferia hoje pode ser considerado centro, mas de modo algum o termo rossio designa o centro de uma cidade. Veja-se ainda o que afirma José Pedro Machado, agora no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, sobre Rossio: «nome próprio dado a vários campos ou largos citadinos de Portugal, antigamente – como, por exemplo, ainda hoje, o de Évora –, fora das muralhas ou cerca urbana; neles se realizavam, e ainda realizam, feiras; o mesmo se deu com o Rossio (Praça D. Pedro IV) de Lisboa. Primitivamente, depois do terreno desbastado e preparado, serviam os rossios para semeadura de cereais, para hortas ou para pastagem de gados da comunidade. Assim se tornaram pontos de reunião dos moradores e centros comerciais. Segundo Robert Ricard (no “Bulletin Hispanique”, 56.º, 1954), o português rossio é espaço aberto no limite, entre a aglomeração urbana e o campo circundante, e corresponde ao castelhano ‘ejido’ (do latim ‘exitus’). No SO de Espanha, parece que, pelo menos na região de Huelva, teria o vocábulo rocio o mesmo sentido que em português. As formas portuguesas medievais ressio e rissio (1227) são frequentes e raros os exemplos com c-; foi isso que determinou a adopção oficial, no séc. XX, da grafia com -ss-, apesar de ainda não haver acordo quanto à verdadeira origem da palavra».