Vou alongar-me um pouco mais neste tema, atendendo a que o consulente me pareceu ser um estudante de nível superior.
Começo, porém, com uns esclarecimentos que se destinam aos nossos leitores em geral. Em inglês, «stifness» pode traduzir-se, por exemplo, por inflexibilidade e «torsional» é um adjectivo que significa relativo à torção. Ou, usando o termo mais técnico (escolhido com discernimento), a tradução `à letra´ seria: «rigidez relativa à torção». Na ideia do consulente para adaptar o «torsional» inglês, propôs “torcional” (visto que torção se escreve com ç-cedilhado).
Ora acontece que também não encontrei “torcional” dicionarizado. O mais completo vocabulário da nossa comum língua, actualizado, que conheço é o da Academia Brasileira de Letras (1998), e este, com letras semelhantes, só regista: torcionado, torcionar, torcionário. Estamos, portanto, a considerar a entrada na língua de um neologismo, que até parece ortograficamente bem formado pelo consulente.
A ressalva é que deve haver sempre prudência na criação de neologismos vindos de línguas com sistemas distintos dos da nossa. E, do meu ponto de vista, a intervenção linguística não é suficiente a nível da ortografia.
Para mim, a questão começa logo em ter-se a certeza de que o novo termo em vez de enriquecer a língua não a irá empobrecer, quando tivermos substituto vernáculo que possa ser utilizado com maior propriedade. Costumo dar o exemplo da palavra `líder´ a substituir sempre a designação de lugares de chefia, quando a riqueza da nossa língua permite escolher, por exemplo: «o comandante dos combatentes», «o primeiro da lista», «o chefe do bando», «o cabecilha dos revoltosos», «o coordenador da comissão», etc., etc. Sem que este parecer signifique que eu seja xenófobo, pois já escrevi que, por exemplo, aceito «líder da bancada» (neste caso, penso que o «líder» tem características especiais, não sendo propriamente um chefe, mas alguém que assume uma vontade colectiva e fala em nome de todos).
Depois, é preciso não esquecer que a nossa língua é muito versátil. Por exemplo, a posição do adjectivo pode dar sentidos diferentes ao conjunto («a mulher nova» [na idade] não tem o mesmo sentido que «a nova mulher» [do homem]). Pegar num adjectivo estranho e “encaixá-lo” numa frase pode trazer resultados inesperados.
Finalmente, devemos ter sempre presente que esta nossa língua “se deleita” no uso da preposição, do pronome, do verbo auxiliar, para exprimir relações gramaticais; e que é esta a sua índole. Mudar tais características pode violentá-la; e, pondo de parte critérios puristas que invoquem crimes de lesa-linguagem, a violência traz o risco de reduzir a sua enorme generosidade...
Por todos estes motivos, eu não recomendo a expressão «rigidez torcional», porque não a sinto da minha língua. Assim, recomendaria outras soluções, como:
a) «Rigidez na torção», para o caso de se tratar dum elemento que apresentou essa característica particular quando é torcido (ex.: «o pescoço apresenta logo rigidez na torção, mesmo de pequena amplitude»).
b) «Rigidez de torção»; para o caso de se considerarem tipos distintos de rigidez (ex.: «a rigidez de torção é medida com um factor angular»).
c) «Rigidez à torção», para o caso do estudo de diversas situações de rigidez, sendo uma delas quando o elemento está sujeito à torção (ex.: «o provete tem maior rigidez à torção, do que à flexão´). E julgo ser este o caso que responde à dúvida do consulente, como aliás já tinha sido sugestão sua.
Várias outras definições se poderiam certamente obter jogando com a partícula mais adequada, mas que agora não me ocorrem.
Julgo, no entanto, que os exemplos apresentados são suficientes para justificar a minha preferência.
Ao seu dispor,