1. Uma distinção clássica em linguística é a distinção entre significado e referente. O significado é o conceito que o próprio signo linguístico encerra; o referente é o objecto ou entidade do mundo extralinguístico (real ou imaginário) segmentado por uma palavra ou expressão. 1.1. Por exemplo, o significado de cama é: «móvel com uma base rectangular, com pés ou não, com cabeceira ou não, destinado ao repouso de alguém.» Mas quando contamos a história do Natal aos nossos filhos, dizemos que o Menino Jesus teve uma cama muito pobrezinha, e, nesta situação de enunciação, cama referencia uma manjedoura. 1.2. As questões relativas à referência são estudadas nas áreas da semântica, pragmática e linguística textual. 2. Consideram-se dois tipos de referência: a) referência exofórica: uma expressão linguística refere directamente em relação à situação extralinguística de enunciação; b) referência endofórica: a expressão linguística aponta, não para um elemento da situação extradiscursiva, mas para um fragmento discursivo já produzido (ou a produzir). 3. Quando falamos em referente espacial e referente temporal, estamos a considerar a componente do contexto activada no acto de referenciação. Nesta medida, poder-se-á acrescentar o referente pessoal. Pessoa, tempo e espaço perfazem as coordenadas básicas do acto de enunciação: «eu/tu – aqui-agora». Não devemos confundir «referente»/«referência» com «ponto de referência». i) «Ontem fui ao cinema.» ii) «Plantei a roseira além.» Em i), o referente (temporal) é o dia anterior ao dia em que digo esta frase: o ponto de referência é «hoje»; «agora». Em ii), o referente (espacial) é um determinado espaço afastado, mas visível para o locutor e para o interlocutor: o ponto de referência é «aqui».