DÚVIDAS

/Possâmos/, /façâmos/ e /saiâmos/, de novo

Li a resposta a uma pergunta feita pelo sr. Armando Dias, em Fevereiro, na qual se explica que a sílaba tónica das palavras "possamos, façamos e saiamos" é a 2.ª a contar do fim e não a 1.ª a contar do início como acontece com todas as formas do presente do conjuntivo. A explicação pareceu-me boa, no entanto depois verifiquei que na 2.ª pessoa do plural isso não acontece: a sílaba acentuada é sempre a última (possais, tragais, saiais, chegueis, etc.). Porquê?
Obrigado.

Resposta

A pergunta que coloca é muito pertinente. De facto, na resposta a que alude, não referi esse aspecto, porque me pareceu fugir um pouco ao objectivo geral da mesma, tendo apenas referido que a forma da segunda pessoa do plural caiu em desuso no português padrão.
Ainda bem, pois, que volta ao problema. Assim, o Ciberdúvidas tem a possibilidade de completar o que ficou em falta na resposta anterior.
De facto, na maior parte dos casos, as formas verbais são paroxítonas (graves), ou seja, são acentuadas na segunda sílaba a contar do fim. Porém, na segunda pessoa do plural isso não acontece. A razão é, no entanto, bem simples: a terminação actual -ais, -eis ou -is (que é uma única sílaba) era, antigamente, -ades, -edes, -ides (duas sílabas). Ainda hoje, em alguns verbos irregulares (por exemplo, o ir) esta terminação aparece (vós ides ou vós is) e em algumas regiões de Portugal é também possível ouvir-se (porque ainda se usa a segunda pessoa do plural) “vós andades” ou “vós comedes”.
Aconteceu, porém, que o d intervocálico caiu e o e foi transformado em i. Apesar disto, o acento manteve-se na vogal que anteriormente era acentuada, o que fez com que hoje tenhamos que vós possais, que vós façais e que vós saiais.

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