O que é difícil para uma pessoa pode ser fácil para outra. A facilidade ou dificuldade de qualquer matéria depende de vários factores. No que diz respeito ao domínio da língua, podemos referir, por exemplo, o contexto familiar que permite à criança um maior ou menor contacto com a norma da língua, o processo de ensino e aprendizagem na escola, a maior ou menor propensão pessoal para assuntos desta área, o gosto de ler e de escrever, o interesse pessoal, enfim, a prática e relacionamento de cada um com a língua. Quem lê muito, quem escreve, quem estuda, não considerará o português assim tão difícil. Poderei, no entanto, dizer que o português é uma língua muito rica e com uma estrutura complexa. Tem origem no latim, língua de cultura, com literatura vasta e famosa, e, na sua formação e evolução, recebeu contributos vários e diversos, desde os dos povos germânicos aos estrangeirismos mais recentes. A realização escrita da língua pode apresentar dificuldades, porque não há uma correspondência única entre fonemas e grafemas (letras). O mesmo fonema pode ser reproduzido na escrita por diferentes letras, e uma só letra pode representar mais do que um som. Não há regras sem excepção nem para a pronúncia das palavras, nem para a sua acentuação, nem para a sua escrita, que decorre, normalmente, da etimologia. A nível da morfologia, não há regras únicas nem de formação nem de flexão das palavras. A sua própria classificação pode variar em função do contexto. Quanto à construção frásica, há uma grande diversidade de processos de concordância e de regência, o que poderá também traduzir-se em dificuldade. Também o aspecto semântico pode contribuir para a dificuldade, dado o facto de as palavras terem sentidos denotativos e conotativos, sentidos reais e figurados, terem significações diferentes em função dos contextos e sofrerem evolução semântica. Mas, o facto de não sabermos tudo sobre um assunto ou de ele ser rico ou complexo não significa obrigatoriamente que seja difícil. É só uma questão de nos interessarmos pelo assunto e irmos descobrindo a sua riqueza e beleza. Quem começa a estudar a língua – que é elemento da sua própria identidade – e tiver gosto em a conhecer e dominar, sentir-se-á enriquecido. Enfim, só a consulente é que poderá, em verdade, dizer porque é que acha o português culto difícil. Espero que essa sensação vá desaparecendo à medida que os seus conhecimentos se forem aprofundando.