O que é corrente escrever é: – «por motivo de doença» (a causa está na doença) – «por motivos de saúde» (é mais vago que o anterior) Isto não quer dizer que as expressões não exerçam uma certa influência mútua, mas penso que a segunda tem um sentido mais genérico que a primeira. Alegar «motivos de saúde» é situar uma dada justificação, por exemplo, o da falta a uma reunião, num dos tipos de razões que podem conduzir a essa ausência. Falar no singular, como na expressão «por motivo», é o mesmo que especificar esses motivos ou essas razões. Sendo assim, nos contextos em apreço, saúde funciona como um hiperónimo (termo de definição mais geral) de saúde (termo de definição mais específica).1 Isto é o que me diz a intuição... que muitas vezes falha. Mas se recorrermos à análise de dados extraídos de um ‘corpus’, há uma série de observações que confirmam que «motivo de doença» é mais usado que «motivo de saúde». Com efeito, no CETEMPúblico, recolhi 70 ocorrrências da expressão «por motivo de doença» contra apenas 6 de «por motivo de saúde». Já em relação a «por motivos...», é mais frequente «por motivos de saúde» (253 ocorrências) do que «por motivos de doença» (48 ocorrências). O que os dados mostram é que há tendências na distribuição dos nomes seleccionados por «por motivo...» e «por motivos...», não se podendo, contudo, dizer que «por motivo de saúde» e «por motivos de doença» sejam expressões completamente ilógicas e agramaticais. Muitas vezes, as tendências de distribuição de uma expressão prendem-se mais com um certo modelo de texto, o qual determina a repetição das mesmas fórmulas. A minha sugestão é que nos pode parecer mais correcto escrever «por motivo de doença» do que «por motivo de saúde», porque é assim que tradicionalmente se regista, por exemplo, a justificação de uma falta. E aqui estamos já num domínio em que a fixação de certas expressões se prende com factores de natureza textual, como seja o do seu grau de convencionalidade.
1Agradeço a Ana Martins a achega que me deu para este parágrafo.