Pode usar uma ou outra forma, ou seja, ligando o pronome ao verbo principal – calar – (1) ou ao verbo auxiliar (ou semiauxiliar, onde se integram os verbos modais dever e poder1) que, neste caso, ocorre na forma «Podem» (2):
1) «Podem calar-se!»
2) «Podem-se calar!» (com hífen)2
A colocação dos pronomes nestas sequências verbais formadas pelo verbo auxiliar (ou semiauxiliar) e o verbo auxiliado (que é o verbo principal), denominadas por Cunha e Cintra de locuções verbais, é tratada por estes gramáticos. Sobre esse tema formulam algumas regras, propondo que «nas locuções verbais em que o verbo principal está no infinitivo ou no gerúndio pode dar-se sempre a ênclise ao infinitivo ou ao gerúndio» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 314).
De qualquer modo, apesar da preferência dos gramáticos pela ligação ao verbo principal («Podem calar-se), o uso tem mostrado que o pronome tem ocorrido tanto com o verbo principal como com o verbo auxiliar (ou semiauxiliar), legitimando as duas formas.
1«Embora os verbos como poder e dever sejam habitualmente verbos auxiliares, em português esta questão não é linear. De acordo com Gonçalves, estes verbos são um tipo especial de verbos semiauxiliares na medida em que apresentam um comportamento duplo. Por um lado, são verbos que podem formar um predicado complexo verbal com o verbo da frase encaixada, comportando-se como não auxiliares, pois o clítico é mantido na frase em que o verbo é gerado e também porque é possível a negação do predicado verbal encaixado. Por outro lado, comportam-se como auxiliares em construções em que o clítico sobe para a esquerda do primeiro verbo» (Mira Mateus et alli, Gramática da Língua Portuguesa, p. 27).
2 A segunda forma apresentada pela consulente (sem hífen) é uma particularidade do português do Brasil de que nos fala Evanildo Bechara, na sua recente Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 2009, p. 590), alertando para o facto de que «com mais frequência ocorre entre brasileiros, na linguagem falada ou escrita, o pronome proclítico ao verbo principal, sem hífen, como se pode verificar através dos exemplos que apresenta: "Eu quero lhe falar", "Eu estou lhe falando". Esclarece, também, que «a gramática clássica, com certo exagero, ainda não aceitou tal maneira de colocar o pronome, salvo se o infinitivo está precedido de preposição: "Começou a lhe falar" ou "Começou a falar-lhe"».