É muito difícil esclarecer as suas dúvidas, porque as palavras que apresenta não vêm nos livros que andam por aí. É certo que há estudos sobre a linguagem popular, mas não são suficientes. É muito de louvar o seu interesse; e com o tempo e o estudo poderá um dia publicar uma obra sobre a linguagem popular das Beiras, que é tão necessária. Não sei se o poderei ajudar porque tal assunto não faz parte da minha actividade.
Conheço alguma coisa das Beiras, porque sou de Coimbra. Vejamos então:
Os vocábulos populares escrevemo-los como os ouvimos. Suponhamos que faz um dicionário. Uma das palavras que deve figurar é poceiro, derivado de poço. O poceiro é tão fundo que faz lembrar um poço. Este vocábulo, porém, tem variantes, certamente conforme a região. A anotação e o estudo das palavras faz-se numa folha de papel para cada palavra a fim de as irmos arrumando por ordem alfabética.
Uma das entradas é esta Poceiro. Menciona a origem da palavra e explica-a. Seguidamente, convém mencionar as várias formas deste vocábulo: pecieiro, peceeiro, peceiro. Julgo que a forma peceeiro não se utiliza.
Cada uma destas formas deve constituir depois uma entrada, em que se remete o leitor para poceiro. Se cada uma das variantes pertencer a determinada região, deve-se dizer, assim como tudo que disser respeito a cada uma delas.
Quanto a agúdia, escreva-se assim mesmo, se estiver inteiramente de acordo com a pronúncia.
Como gosta deste trabalho, não desista. É claro que tem de se servir de vários livros que o possam esclarecer e dar-lhe conhecimentos profundos sobre tal assunto.
Quanto a piscossanha / piscoçanha, vou-lhe dizer o que me parece. Julgo que tem relação com pescoço, pelo seguinte: a costela, também chamada costelo(tê) é uma armadilha que, quando se fecha, apanha muitas vezes o passarito pela região do pescoço. É claro que nem sempre, porque isto depende da posição em que o passarito se coloca para comer o que puseram no costelo.
A armadilha também pode prender o pássaro pelas «costas», onde estão as costelas. E talvez daqui as denominações de costela e de costelo.
Como a pescoçanha é uma armadilha que, em bastantes casos prende, pelo menos parece, o pássaro pela região do pescoço ou por ali perto, parece que a melhor grafia é pescoçanha.