Vale a pena ter em conta que uma coisa é o conhecimento que o professor precisa de ter acerca de um determinado assunto, outra coisa diferente é a forma como esse saber é transmitido aos alunos. Assim, para professor saber, diz-nos o Dicionário Terminológico (DT), em B.1.1, que um fonema é uma «Unidade mínima do sistema fonológico, que pode também designar-se como segmento. Dois sons que, substituídos um pelo outro no mesmo contexto, permitem distinguir significados são fonemas de uma língua. O /p/ de pata e o /b/ de bata são fonemas do português.»
No mesmo DT, mas no subdomínio E.1, «Representação gráfica, Letras acentos e diacríticos», podemos ver que letra é «Cada um dos sinais gráficos que constituem um alfabeto. A cada letra ou conjunto de letras pode corresponder um ou mais sons da língua...» e que dígrafo é «Grupo de duas letras que representa um único som».
Podemos dizer que um fonema é um som da língua portuguesa, no caso em apreço. Podemos ainda dizer que aos sons de uma língua corresponde, para a escrita, uma representação gráfica. Essa representação gráfica faz-se através do alfabeto e de alguns sinais auxiliares. Além disso, podemos dividir as letras do alfabeto em vogais e consoantes a que devemos acrescentar alguns dígrafos (nh, lh…), ou outros sinais, como acontece com a cedilha em ç.
Os fonemas da palavra pintainho são sete: /p/; /ĩ/; /t/; /ɐ/; /i/; /ɲ/; /u/. A consoante n veicula a nasalação da vogal anterior, e nh é um dígrafo.
Quanto à forma como se ensina isso a alunos do 1.º ciclo, devo, antes de mais, dizer que nada sei acerca da didática do 1.º ciclo, pois sempre ensinei no 3.º ciclo, ou no secundário. Porém, alerto para o facto de os conteúdos «sons e fonemas» – ou, melhor, o conceito subjacente – não ser de explicitação obrigatória enquanto metalinguagem, ou seja, os alunos, hoje como ontem, têm de saber que a língua se realiza oralmente através de sons, e que esses sons têm uma representação gráfica, através do alfabeto, mas não precisam de saber que a designação metalinguística para som é fonema…
Como forma de apoio, transcrevo os descritores de desempenho do programa referentes ao 1.º e 2.º anos do 1.º ciclo, e relacionados com a questão em apreço. Transcrevo ainda os exemplos de atividades propostos na nota 1 da página 47 do programa (atualizo a grafia):
«Descritor de desempenho
Manipular os sons da língua e observar os efeitos produzidos (1):
– segmentar e reconstruir a cadeia fónica;
– discriminar os sons da fala;
– articular corretamente os sons da língua;
– produzir palavras por alteração, supressão e inserção de elementos.
Nota:
(1) Ex.: Atividades que permitam a identificação do número de palavras numa frase, o número de sílabas e fonemas numa palavra.
Ex.: Manipular as sílabas de uma palavra (adição, supressão, troca de ordem e substituição).
Ex.: Exercícios de construção e reconstrução da cadeia fónica: segmentar palavras em sílabas; sílabas em fonemas; reconstruir fonemas em sílabas; sílabas em palavras.
Ex.: Atividades visando a verificação de que, em português, é possível identificar, foneticamente, não cinco vogais – a, e, i, o, u – mas catorze.
Ex.: Exercícios que visem a produção de palavras que contenham grupos consonânticos pertencentes à mesma sílaba (br, cl) e os de articulação instável (dm, bs).
Ex.: Exercícios que permitam estabelecer relações de semelhança e diferença entre os sons.
Ex.: Exercícios de representação da segmentação silábica (ex.: ca.rro).
Ex.: A partir de palavras ouvidas, identificar sons que se repetem.
Ex.: Atividades para a descoberta e produção de rimas.»
O descritor de desempenho repete-se nos 3.º e 4.º anos, p. 54 do programa, ainda que menos pormenorizado:
«Manipular os sons da língua e observar os efeitos produzidos (1):
– segmentar e reconstruir a cadeia fónica;
– produzir palavras por alteração, supressão e inserção de elementos.»
Também aqui o descritor é acompanhado de uma nota orientadora:
«(1) Ex.: Reconstruir ou reinventar palavras alterando a sua estrutura silábica (aumentar sílabas, suprimir, trocar...).
Ex.: Atividades de exploração dos efeitos prosódicos resultantes da articulação de sons em fronteiras de palavras (ex.: Este chocolate é de leite./Este chocolate é um deleite).»
Por outro lado, um dos materiais de apoio do Programa Nacional do Ensino do Português (PNEP), O Conhecimento da Língua: Desenvolver a Consciência Fonológica, contém, a partir da página 49, diversas propostas de atividades que poderão ser-lhe úteis e que têm como objetivo ajudar o aluno a ter a perceção dos sons da nossa língua. Essas atividades prendem-se, por exemplo, com jogos com rimas, troca de um som numa palavra, etc.