Agradeço as palavras simpáticas que me dirigiu, esperando não defraudar as expetativas de quem me/nos apresenta dúvidas, de modo a dar continuidade ao trabalho de equipa do Ciberdúvidas.
Respondendo à questão apresentada:
De facto, tal como o consulente propõe, a oração infinitiva «Trabalhar no Tribunal de Justiça» pode ser, também, classificada como sujeito da frase (complexa) «Trabalhar no Tribunal de Justiça é um sonho meu», situação prevista pelas autoras do capítulo «Tipologia e distribuição das expressões nominais» da Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Caminho, 2003, p. 825), de Mira Mateus et al., e, também, no Dicionário Terminológico.
Como se trata de uma frase com um verbo copulativo, que tem a particularidade de se poder alterar a ordem dos constituintes sem que o sentido da frase mude — «Trabalhar no Tribunal de Justiça é um sonho meu» ou «Um sonho meu é trabalhar no Tribunal de Justiça» —, poder-se-ia cair na tentação de se afirmar que se tratava de um caso de uma frase que apresenta estrutura de espelho (de que nos fala a obra citada, p. 544), mas a realidade é que este tipo de frase é formado com dois constituintes nominais referenciais (o que não é o caso). É esta a razão pela qual esta frase não pode ser considerada equativa1.
1Sobre as particularidades das frases identificacionais ou equativas, as autoras dizem-nos o seguinte: »«s frases [a) «A degradação do edifício foi a causa do desmoronamento e b)«A causa do desmoronamento foi a degradação do edifício»] apresentam uma estrutura em espelho, com dois constituintes nominais referenciais, o que poderia pôr em causa a presença de uma oração pequena na sua estrutura sintática. Contudo, vários argumentos mostram que também neste tipo de frases copulativas, a que muitos autores chamam frases identificacionais ou equativas, um dos constituintes nominais se comporta como predicado e o outro como sujeito.» (idem, p. 544).