A questão levantada pelo consulente prende-se com a chamada romanização da língua grega, ou seja, com a representação, por meio do alfabeto latino, de palavras ou textos escritos em carateres gregos. Existem vários sistemas de romanização, consoante o idioma original (grego antigo ou grego moderno) e o objetivo da romanização (transliteração ou transcrição).
A transliteração é uma transposição grafémica que visa sobretudo permitir a recuperação da grafia original a partir do texto transliterado. No caso do grego antigo, existem basicamente dois sistemas: o tradicional, que se baseia nas transcrições latinas de palavras e textos gregos, e o científico, mais recente, que é totalmente reversível, ao contrário do sistema tradicional, pelo que pode considerar-se mais fiel. No entanto, as diferenças entre estes dois sistemas são mínimas, circunscrevendo-se apenas à representação de três sons consonânticos (ζ, κ e χ), da duração das vogais e dos dígrafos vocálicos.
A transcrição de palavras do grego antigo para português, bem como para as restantes línguas novilatinas, implica normalmente certa adaptação morfológica, a par da fonética. Por norma, os cultismos gregos usados em português são transcritos e não transliterados. Embora existam normas gerais de transcrição, baseadas sobretudo nas transcrições latinas, há palavras, geralmente de uso frequente, que seguiram outro sistema ou via de transcrição.
No caso em apreço, a romanização do antropónimo Ὀνομάγουλος poderá fazer-se de três formas diferentes:
Transliteração tradicional: | Onomágulos |
Transliteração científica: | Onomágoulos |
Transcrição portuguesa: | Onomágulo |
Como termo de comparação, apresento também a romanização do nome próprio deste governante bizantino (Βασίλειος):
Transliteração tradicional: | Basílios |
Transliteração científica: | Basíleios |
Transcrição portuguesa: | Basílio |
Por último, apresento a romanização do nome de um dos mais conhecidos filósofos gregos (Σωκράτης):
Transliteração tradicional: | Sokrátes |
Transliteração científica: | Sōkrátēs |
Transcrição portuguesa: | Sócrates |
No que diz respeito à romanização de nomes gregos na Wikipédia, permito-me fazer as seguintes recomendações:
1) Descartar de vez a transliteração tradicional, por existir outra mais moderna e mais fiel.
2) Não misturar, no mesmo nome, nomes transliterados com nomes transcritos. Por exemplo, a romanização “Basílio Onomágoulos” mistura um nome transcrito (Basílio) com outro transliterado (“Onomágoulos”).
3) Na medida do possível, transcrever todos os nomes e apresentar a respetiva transcrição científica. Por exemplo:
«Basílio Onomágulo (em grego: Βασίλειος Ὀνομάγουλος, tranl. Basíleios Onomágoulos; m. 717) foi um governante bizantino [...]»
Esta recomendação, no entanto, não fica imune a objeções. Na verdade, há certos nomes gregos (por exemplo, Ὀνομάγουλος) que são praticamente desconhecidos entre nós, e cuja romanização nem sequer figura nos mais reputados dicionários latinos. Por isso mesmo, é natural que certos wikipedistas prefiram não transcrever (ou seja, aportuguesar) esses nomes e optem por transliterá-los, mesmo correndo o risco de misturar nomes transcritos com nomes transliterados. Nesse caso, importa que, pelo menos, a transliteração seja feita de forma rigorosa e consistente.
Em relação à “variante italiana” mencionada pelo consulente, refira-se que a língua italiana, ao contrário da portuguesa, não acentua graficamente os vocábulos esdrúxulos, pelo que não se poderá inferir que Onomagulo, em italiano, só por lhe faltar o acento gráfico, deva ler-se como se fosse um paroxítono...