De facto, é frequente os falantes julgarem erradamente que certas formas são vulgares ou pouco compatíveis com determinado registo de língua. A tendência deles é, pois, alterar certas construções ou aplicar indevidamente certas regras, adequando-as à ideia que têm do registo mais formal. Trata-se de uma situação que tem que ver com a relação do falante com a própria língua e com a comunidade que a usa, podendo inserir-se no fenómeno da hipercorrecção: este consiste, no fundo, em alterar certas formas linguísticas na crença de que estas estão incorrectas.
Assim, a expressão «colocar-se em fuga», embora utilizada, é um tanto rebuscada, procedendo talvez de um juízo erróneo sobre a falta de adequação de pôr, verbo mais corrente, a uma situação de comunicação menos descontraída. A realidade, porém, é que a locução tradicional e dicionarizada é pôr-se em fuga, «desaparecer, escapar» (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, 2001, da Academia das Ciências de Lisboa).
É, pois, de evitar a substituição de pôr por colocar em expressões idiomáticas como pôr de parte, pôr no papel, pôr o dedo na ferida, pôr por/em miúdos, entre outras (cf. idem, ibidem).