Contrariamente ao verbo abusar, que implica, quando não é intransitivo, o uso de uma preposição (é transitivo preposicional), o verbo vitimar é transitivo directo:
(1) Os incêndios do verão passado vitimaram algumas pessoas.
Ora, como todos os verbos transitivos directos inequívocos, o verbo vitimar pode ter duas formas equivalentes no sentido, uma activa, como (1), outra passiva, como (2):
(2) Alguns bombeiros foram vitimados pelos incêndios do Verão passado.
A estranheza que, potencialmente, se sente perante frases como (1) e (2) não provém de uma incorrecção sintáctica [como em “crianças abusadas” (à letra, «crianças malcriadas»)], mas de uma preferência por outro tipo de estrutura. Com efeito, é mais comum ouvirem-se e dizerem-se frases como (3):
(3) Alguns bombeiros foram vítimas dos incêndios deste Verão.
Esta preferência poderá advir do facto de o conhecimento que temos do mundo nos permitir encarar os incêndios como um mal, mas não como entidades dinâmicas, com capacidade para iniciar uma acção como vitimar. Creio que o mesmo se passa em relação a outros fenómenos menos positivos que originam vítimas, como o cancro, as epidemias, as guerras, etc.