DÚVIDAS

O uso de palavras vulgares para exprimir impaciência

Talvez sejam muito populares e coloquiais as interjeições foda-se!, porra! e caralho!. Mas, por serem vulgares, se calhar as pessoas preferem evitá-las. O uso de carago! não seria uma tentativa de expressar impaciência sem ser vulgar? Então, vejamos, para exprimir impaciência, eu poderia usar caramba!, hum! e ora! tranquilamente, sem medo de estar falando mal? Em relação a fónix!, uxte!, pardês!, caraças! e arre! não sei o que pensar. Não consigo orientar-me. E, mesmo que pudesse consultar a definição destas palavras em muitos dicionários, ficaria cheia de dúvidas relativamente ao uso das mesmas. São muito ou pouco usadas? Ouvem-se na rua, nas telenovelas, dentro de casa? Ouviam-se mais antes que actualmente? Às quais devo dar preferência? Um nativo usa todas estas palavras no seu dia-a-dia? Se calhar há outras mais apropriadas para traduzir tal sentimento.

Muitíssimo obrigada por vossa preciosa ajuda!

Resposta

Limito-me às interjeições referidas na pergunta, sem ter a veleidade de ser rigoroso, porque não conheço estudos que permitam perceber melhor qual a distribuição de cada uma delas em diferentes registos linguísticos. Direi apenas que há várias distinções a fazer, primeiro, entre interjeições em uso e interjeições em desuso ou arcaicas (uxte! pardês!).1 Depois, no conjunto das interjeições em uso, encontram-se interjeições francamente grosseiras (caralho! foda-se! ); as que o são menos mas ainda assim pouco recomendáveis num discurso mais polido (caraças! fónix! porra!); as toleradas num contexto familiar ou de amigos sem soarem vulgares ou ordinárias (caramba!); as perfeitamente anódinas (hum! ora!); e finalmente as que têm um certo sabor regional ou rural (carago! arre!). É claro que estas apreciações são subjectivas, mas parecem-se suficientes para quem queira iniciar-se no seu uso adequado.

1 Segundo o Grande Dicionário da Língua Portuguesa de José Pedro Machado, uxte! é equivalente a arre!, apre!, fora!, t´arrenego!, e pardês, o mesmo que o arcaísmo pardeus!, «por Deus!», «em verdade!», «realmente!».

 

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