DÚVIDAS

«O suspeito foi presente a tribunal», de novo

Sobre a resposta «O suspeito foi presente a tribunal», quero dizer que gostei da resposta e a achei bastante inteligente. No entanto a minha intuição achou-a desajustada ao significado que a frase sugere.
Acho essa frase mesmo genial. Acho-a de um genialidade jurídica incrível.
Essa frase consegue dar as seguintes sensações (embora sem rigor):
1) Que o sujeito estava num determinado momento perante o tribunal.
2) Que o sujeito estava perante o tribunal por imposição (moral).
3) Não obstante, que o sujeito estava perante o tribunal sem coacção física.
Para não me estender vou explicar como vejo a frase apresentando uma sequência aproximativa...
1) O sujeito está presente no tribunal
2) O sujeito está presente ao tribunal
(Recordem-se as frases «O hipermercado situa-se à Rotunda da Boavista», «O prédio é à Praça da Liberdade». A proposição 'em' é substituída por "a" para um significado mais psicológico e menos físico)
3) O sujeito foi presente ao tribunal (a frase de cima no passado)

Resposta

Reconhecendo embora a emotividade e a subjectividade inerentes à comunicação verbal, sobretudo em língua materna, é função do Ciberdúvidas dar respostas tão objectivas quanto possível. É nesta linha que tecerei algumas considerações à sua reflexão, prezado consulente.
A primeira frase que aponta, «… o sujeito estava num determinado momento perante o tribunal.», constitui, tal como «O suspeito foi presente a tribunal», uma informação objectiva, com rigor. É verdade que não está definido em termos concretos o local, mas isso deve-se ao facto de tribunal designar sobretudo a instituição, que desempenha, num estado de direito, uma função legal, não moral. Em relação à 3.ª frase queria apenas salientar que estar presente é uma forma passiva, que tira ao sujeito toda a capacidade de iniciativa.
Quanto à segunda parte da sua exposição devo dizer-lhe que, enquanto falante de português, não aceito como correcta a frase «O sujeito está presente ao tribunal». Com efeito, na frase de partida – em que a palavra tribunal aparece sem artigo, designando, por isso, uma entidade global – há uma ideia de movimento, de deslocação de alguém de um determinado local para outro. Note-se que esse outro lugar vale sobretudo enquanto instituição e a ideia mais importante não é registar o lugar para onde o sujeito foi deslocado, mas sim a função desse lugar: o sujeito foi colocado perante o sistema judicial que o tribunal representa.
A frase que indica «… o sujeito estava num determinado momento perante o tribunal.» não pode ser comparada com frases como «O hipermercado situa-se à Rotunda da Boavista», porque nesta frase, como na que o consulente indica logo a seguir, a preposição a transmite a ideia de local aproximado. O que se quer dizer é que o hipermercado fica próximo da Rotunda da Boavista. Ora a frase «O sujeito foi presente a tribunal» não significa que o sujeito foi levado para próximo do tribunal, mas sim para dentro do tribunal.
Permita-me terminar com um pequeno reparo, a uma confusão que de certeza é fruto do entusiasmo que transparece do seu texto. O verbo da última frase do texto não é o passado de estar, mas, sim, de ser… 

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