O dito já vem da Antiguidade, mas não é possível reconstituir os factos que lhe deram origem. É, contudo, possível compreender as circunstâncias que rodearam o seu aparecimento, de acordo com a informação dispensada por Roberto Cortes de Lacerda, Helena da Rosa Cortes de Lacerda e Estela dos Santos Abreu, no Dicionário de Provérbios Lisboa, Contexto Editora, 2000)1, autores que incluem o provérbio em questão numa série temática:
«A barba não faz o filósofo.»
«Barba não dá juízo.»
«Se a barba fosse tudo, podia o bode pregar.»
«Se barbas fossem documentos, camarão era dono do mar.»
Todos estes provérbios, incluído o em apreço, entroncam numa tradição clássica, de origem grega (apò pó:gó:nos philósophoi)2 e que cristalizou na expressão latina barba non facit philosophum. Uma versão francesa do século XIII diz «En la grande barbe ne gît pas le savoir», literalmente, «na grande barba não jaz o saber», provérbio que é parafraseado em francês moderno deste modo (ibidem): «La barbe, attribut de ceux que ont vieilli dans l´étude ou la réflexion, ne suffit pourtant à signaler le savant ni le sage», o que, numa tradução livre, quer dizer: «A barba, atributo dos que envelheceram no estudo ou na reflexão, não basta, no entanto, para identificar o sabedor ou o sábio.»
A fonte consultada refere ainda que, de acordo com uma autor francês (Maurice Rat), a barba longa, o manto (abolla) e o bastão eram insígnias dos cínicos e estoicos, filósofos de rua («philosophe de carrefour»).
1 O dito é regist{#|r}ado, sem explicação, por José Pedro Machado, no Grande Livro dos Provérbios (Lisboa, Ediorial Notícias, 2005), e Deolinda Milhano, Dicionário de Ditados (Provérbios) e Frases Feitas (Lisboa, Edições Colibri, 2008).
2 Fiz a transliteração, em alfabeto latino, dos caracteres gregos usados na fonte consultada. Uso o: para representar omega (ω), de modo a permitir a colocação do acento agudo, visto tecnicamente ser aqui impossível empregar, com acento sobreposto, o carácter grego ou ō.