O h mudo, ou seja, sem valor fonético, começa a deixar de ser grafado em posição mediana depois da reforma ortográfica de 1911. Desde o século XVI até então reinava a escrita etimológica, isto é, que se baseava nos étimos latino ou grego de cada palavra (ex.: pharmacia; psalmo; etc.).
Em 1911, é decretada a reforma ortográfica, fundada nos preceitos de simplificação da gramática de Gonçalves Viana, publicada em 1904, onde se estabelecia o seguinte:
«a) Proscrição absoluta e incondicional de todos os símbolos da etimologia grega: th, ph, ch (= k), rh e Y;
b) Redução das consoantes dobradas a singelas, com excepção de RR e SS, mediais, que têm valores peculiares;
c) Eliminação das consoantes nulas, quando não influem na pronúncia da vogal que as precede;
d) Regularização da acentuação gráfica.»
A alínea c) aplica-se ao h mudo em posição mediana, apesar de este se manter em inúmeros vocabulos.
Em 1931 é aprovado o primeiro Acordo Ortográfico entre as Academias de Letras do Brasil e das Ciências de Lisboa, visando a uniformização da escrita entre Portugal e o Brasil (pois a Primeira Reforma não foi extensiva ao Brasil). No Decreto n.º 20 108, de 22 de Julho de 1931, da base da Legislação Federal do Brasil, é expresso o seguinte (sublinhado nosso):
«De conformidade com o que votou em 1907, e examinando as modificações e ampliações que, em 1911, constituiram a ortografia oficial portuguesa, a Academia Brasileira de Letras resolveu aceitar o acordo que se segue, dentro das novas alterações constantes das bases juntas e dele fazendo parte integrante — 30 de abril de 1931. A Academia das Ciências de Lisboa, pelo seu representante, Sua Excelência o Senhor Embaixador Duarte Leite, e a Academia Brasileira de Letras, pelo seu Presidente, Fernando Magalhães, firmam o acordo ortográfico nos seguintes termos:
1.º – A Academia. Brasileira aceita a ortografia oficialmente adotada em Portugal com as modificações por ela propostas e constantes das bases juntas, que deste acordo fazem parte integrante;
2.º – A Academia das Ciências de Lisboa aceita as modificações propostas pela Academia Brasileira de Letras e constantes das referidas bases;
3.º – As duas Academias examinarão em comum as dúvidas que de futuro se suscitarem quanto à ortografia da língua portuguesa;
4.º – As duas Academias obrigam-se a empregar esforços junto aos respectivos Governos, a fim de, em harmonia com os termos do presente acordo, ser decretada nos dois países a ortografia nacional.
BASES DO ACORDO ORTOGRÁFICO ENTRE A ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA E A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS.
ELIMINAR:
1.º – As consoantes mudas: cetro, fruto, sinal, em vez de sceptro, fructo, signal.
2.º – As consoantes geminadas: sábado, belo, efeito, em vez de sabbado, bello, effeito.
Excetuam-se:
a) os ss e rr: nosso, carro.
b) o grupo cç quando os dois cç soarem distintamente: sucção, secção.
3.º – O h mudo mediano: sair, tesouro, compreender.
Notas:
a) Manteem-se os grupos ch (chiante), lh, nh: chá, velho, ninho,
Exceção:
Conserva-se o h mudo nos vocábulos compostos com prefixo, quando existir na língua, como palavra autônoma, o último elemento: inhumano, deshabitar, deshonra, rehaver.»
Como se pode ver, a maioria dos h mudos havia sido suprimida em 1931, conservando-se apenas nos casos acima descritos, os quais deixaram de ser excepção nos anos 40. O Formulário Ortográfico de 1943 já regista essa alteração (sublinhado nosso):
«III — H
11 Esta letra não é propriamente consoante, mas um símbolo que, em razão da etimologia e da tradição escrita do nosso idioma, se conserva no princípio de várias palavras e no fim de algumas interjeições: haver, hélice, hidrogênio, hóstia, humildade, há bem, puh, etc.
12 No interior do vocábulo, só se emprega em dois casos: quando faz parte do ch, do lh e do nh, que representam fonemas palatais, e nos compostos em que o segundo elemento, com h inicial etimológico, se une ao primeiro por meio de hífen: chave, malho, rebanho, anti-higiênico, contra-haste, pré-história, sobre-humano, etc.
Observação – Nos compostos sem hífen, elimina-se o h do segundo elemento: anarmônico, biebdomadário, coonestar, desarmonia, exausto, inabilitar, lobisomem, reaver, etc.»
É, portanto, entre 1911 e 1943 que se suprime o h medial, exceptuando-se apenas os dois casos referidos. É provável que no decorrer deste período a grafia oscilasse; contudo, esta nova grafia é estabelecida e passa a ser obrigatória em Portugal com o Acordo Ortográfico de 1945:
«O h inicial emprega-se: 1.°) por força da etimologia; haver, hélice, hera, hoje, hora, humano; 2.°) em virtude de tradição gráfica muito longa, com origem no próprio latim e com paralelo em línguas românicas: húmido, humor; 3.°) em virtude de adopção convencional: há?, hem?, hum!
«Admite-se, contudo, a sua supressão, apesar da etimologia, quando ela está inteiramente consagrada pelo uso: erva, em vez de herva; e, portanto, ervaçal, ervanário, ervoso (em contraste com herbáceo, herbanário, herboso, formas de origem erudita).
«Se um h inicial passa a interior, por via de composição, e o elemento em que figura se aglutina ao precedente, suprime-se: anarmónico, biebdomadário, desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem, reabilitar, reaver, transumar. Igualmente se suprime nas formas do verbo haver que entram, com pronomes intercalados, em conjugações de futuro e de condicional: amá-lo-ei, amá-lo-ia, dir-se-á, dir-se-ia, falar-nos-emos, falar-nos-íamos, juntar-se-lhe-ão, juntar-se-lhe-iam. Mantém-se, no entanto, quando, numa palavra composta, pertence a um elemento que está ligado ao anterior por meio de hífen.»
Ver também: