Sim, o gerúndio flexionado (é frequente chamar-lhe assim) é comum no Sul de Portugal, não só nestas pessoas, mas inclusivamente na primeira pessoa do plural. No Alentejo, a segunda pessoa do singular é «tendos» e não «tendes» (mas a terceira do plural é «tendem»; é difícil perceber se a primeira do plural é «têndemos» ou «têndomos»). Não sei se será de facto um regionalismo, pois já tenho verificado que também é utilizado por pessoas da área da norma, mas, de facto, o que se considera normalmente é que é um regionalismo do Sul do nosso país (consideremos então que é efectivamente assim).
De qualquer forma, estas formas não pertencem à língua padrão. Não percebo muito bem a questão que coloca, porque qualquer regionalismo é aceitável no sentido em que, em termos estritamente linguísticos, tudo aquilo que for consistentemente produzido por falantes nativos e não seja esporádico (não tenha ocorrido em circunstâncias especiais nem seja a característica de um falante particular, por exemplo) está correcto (pois não há formas de falar linguisticamente superiores a outras, quer estas formas de falar sejam dialectos ou línguas): aquilo de que se fala quando se fala de variantes incorrectas tem a ver só com conotações sociais que estão associadas a essas variantes. O que quero dizer é que o falar das camadas cultas da região que vai de Lisboa a Coimbra não é em si mesmo melhor do que as restantes variedades da língua, apenas mais prestigiado social e culturalmente. Na verdade, aquilo que fixou esta variedade como a norma da língua não foi a sua superioridade linguística (que não existe), mas sim razões de ordem política e social. Essa diferença social entre expressões alternativas existe efectivamente e tem a vantagem de permitir que, evitando as diferenças, haja uma forma uniforme de falar e escrever, entendida por todos os falantes da língua e gerando menos equívocos. É de notar que a língua escrita segue a língua padrão, uma vez que o objectivo da existência de uma norma ortográfica é também a uniformidade e a boa compreensão.
A questão de o uso do gerúndio flexionado ser ou não aceitável enquanto regionalismo não me parece portanto pertinente. Por um lado, numa perspectiva linguística, não há formas mais ou menos aceitáveis. Por outro lado, numa perspectiva normativa, os regionalismos não pertencem à língua padrão. Ninguém pode impedir outra pessoa de falar como quer, mas os regionalismos devem ser evitados em circunstâncias mais formais.