DÚVIDAS

"O Eco": análise sintáctica

Gostaria que fosse feita a análise sintática deste poema:

O Eco

O menino pergunta ao eco
onde é que ele se esconde.
Mas o eco só responde: "Onde? Onde?"
O menino também lhe pede:
"Eco, vem passear comigo!"
Mas não sabe se o eco é amigo
ou inimigo.
Pois só lhe ouve dizer:
"Migo", "Migo".

Cecília Meireles

Resposta

Não sei bem qual a profundidade e extensão de análise sintáctica que pretende. Vou fazer a divisão e classificação das orações. Se pretender a particularização de algum aspecto, estou ao seu dispor para qualquer esclarecimento.

1.ª oração: o menino pergunta ao eco – oração principal;
2.ª oração: onde é que ele se esconde – oração interrogativa indirecta, substantiva objectiva directa;
3.ª oração: mas o eco só responde: onde?, onde? – oração absoluta, com valor de coordenada adversativa a nível do sentido do texto;
4.ª oração: o menino também lhe pede – oração absoluta, justaposta;
5.ª oração: eco, vem passear comigo – oração absoluta;
6.ª oração: mas não sabe – oração principal, com valor de coordenada adversativa a nível do sentido do texto;
7.ª oração: se o eco é amigo ou inimigo – oração subordinada integrante, substantiva objectiva directa;
8.ª oração: pois só lhe ouve dizer: migo, migo. – oração subordinada causal (subordinada a "mas não sabe").

A concluir, deverei dizer, cara consulente, que a análise sintáctica é um exercício de natureza lógica. A linguagem poética utiliza o código linguístico de uma forma particular, criando beleza, muitas vezes, por associações, omissões, etc., que fogem à lógica linguística ou à sua norma, havendo frequentemente ligações a nível do sentido do texto, de subentendidos e pressupostos não claramente detectáveis.

Com isto pretendo dizer que, embora, por vezes, seja admissível e, até, útil, a análise sintáctica num poema, quando a interligação de ideias é muito complexa e essa análise pode contribuir para a sua clarificação e melhor compreensão, ela é de evitar na generalidade do texto poético.

Num poema simples como este, que vive essencialmente das sonoridades, criando em quem o ouve uma sensação de quase que entrada no mundo da música, julgo perfeitamente desadequada uma análise sintáctica. Não sei qual o objectivo ou o nível de estudos, mas, como professora, considero que esta prática deve ser evitada, pois tem dois defeitos: faz com que os alunos rejeitem a poesia e não contribui para uma eficaz e rápida aprendizagem dos conteúdos gramaticais, dadas as características estilísticas próprias do texto poético.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa