Não é verdade ter eu afirmado ser correcta a frase «O comer está na mesa» por ser corrente empregar o infinito dos verbos como substantivos. Afirmei ser correctíssima, mas não disse porquê, por que razão. Basta ler melhor a minha resposta anterior (cf. O comer).
Apenas apresentei outros casos de substantivação de verbos para se verificar que é da índole da nossa língua o infinito empregado como substantivo.
Mais ainda: «o correr» não se refere ao acto de «correr», mas é designação do próprio acto, tal como corrida (o correr = a corrida) - são coisas diferentes. Assim também «o dar» é a própria dávida, é o acto de dar, diferente da dizermos que «se refere ao acto de dar». Uma coisa é ser, outra coisa é referir-se a. O mesmo se dá com os outros verbos. Os exemplos que dei são bem apropriados para se compreender que é correctíssima a substantivação do infinito dos verbos, precisamente porque escolhi verbos que significam acto, que é também um substantivo. Escolhi-os propositadamente.
Mas vejamos agora a substantivação do infinito de verbos que não significam acto. Aqui vão três frases:
1) «Deus é o ser donde tudo provém».
2) «A minha vida é um estar que nunca se satisfaz com o que pensar».
3) «A vida dele é um existir sem préstimo».
Qualquer palavra antecedida de artigo é sempre substantivo: «Traz-me lá o comer, que tenho fome!».