Para tratarmos a questão proposta vamos dar especial importância ao uso dos artigos definidos que identificam e aproximam os substantivos próprios e comuns dos falantes.
Os artigos definidos têm origem nos pronomes demonstrativos latinos e mantêm algumas das suas características iniciais, nomeadamente a determinação das pessoas e das coisas.
Os adjectivos e os outros complementos ajudam à individualização dos substantivos e, portanto, reforçam os artigos definidos.
Em relação aos substantivos próprios, os artigos definidos não se usam junto a personalidades históricas de outras épocas, salvo quando as queremos tornar próximas.
Em relação a Cleópatra, poderemos dizer: «A linda Cleópatra dominava o seu apaixonado Marco António».
Deste modo, aproximamos de nós estas figuras históricas. Damos-lhes vida e actualidade.
Também diremos «Teresa de Calcutá foi uma religiosa notável» e «O mundo prestou homenagem a Teresa de Calcutá» quando queremos guardar a distância a essa freira exemplar. Se nos queremos aproximar, diremos: «Muito devemos à Teresa de Calcutá» ou «Muito devemos à madre Teresa de Calcutá».
Em Portugal, raramente omitimos o artigo definido antes de Virgem Maria. Usamos normalmente a crase quando Virgem Maria é complemento indirecto ou usamos a preposição a por força da regência imposta pelas palavras do contexto.
Depois destas construções sem artigo definido, apresentamos a forma mais corrente: «O povo diz adeus à Virgem Maria» ou «Neste quadro, está representada a Virgem Maria» ou «Naquele quadro, os pastores apresentam as suas oferendas à Virgem Maria».
No caso de Nossa Senhora de Fátima é a maior ou menor intimidade com Nossa Senhora que decide o uso do artigo definido.
Uns dirão «Sinto-me feliz junto a Nossa Senhora de Fátima», enquanto outros dirão «Sinto-me feliz junto à Nossa Senhora de Fátima».
Como a crase surge quando a preposição a se encontra com o artigo definido a, é o uso do artigo definido que determina a crase. Como procurámos demonstrar, o artigo definido pode surgir por razões intencionais, emocionais ou estilísticas dos falantes.