O que é por vezes criticado é a situação contrária: o uso de artigo antes de nomes próprios quando eles designam certas personalidades afastadas da pessoa que fala, mas bastante conhecidas ("o" Camões, "o" Jesus Cristo) – uma situação que é frequente no Português europeu. Justifica-se tal crítica por o artigo dar um tom de familiaridade que pode não ser apropriado.
A situação descrita (o não uso de artigo antes de antropónimos ou de nomes de cariz familiar, como «pai» ou «mãe») não é propriamente incorrecta. Ela é praticamente desconhecida do Português europeu, mas o Português do Brasil segue-a por vezes, assim como estádios mais antigos da nossa língua.
A propósito do emprego do artigo definido antes de nomes próprios, a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, adianta o seguinte:
«Na linguagem popular e no trato familiar é muito frequente no Brasil e está praticamente generalizada na língua corrente de Portugal a anteposição do artigo definido a nomes de baptismo de pessoas, o que lhes dá, como dissemos, um tom de afectividade ou familiaridade. Comparem-se, por exemplo, estas duas frases:
Geraldo saiu agora.
O Geraldo saiu agora.
Na primeira (só possível, em Portugal, na linguagem escrita), a pessoa mencionada vem envolta de certa distinção, sentimo-la mais distante. Na segunda, apontamos a pessoa como conhecida dos presentes, como um elemento familiar, caseiro».
N.E. – Esta resposta destina-se também à consulente Luciana Meiking.