De acordo com o Dicionário Terminológico, em «artigo 11.º» temos um adjetivo que pertence à classe tradicional dos numerais ordinais. Por sua vez, em «artigo 11», temos um quantificador numeral cardinal, visto expressar uma quantidade numérica inteira precisa. Os comportamentos na frase parecem ser idênticos – como explicitaremos mais adiante –, pelo que a classificação dos numerais ordinais como adjetivos no Dicionário Terminológico parece prender-se, acima de tudo, com o facto de serem flexionados (tal como os nomes e os adjetivos).
A classificação de 11.º como adjetivo já surgia nas denominadas gramáticas tradicionais (ou normativas) como, por exemplo, a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Cunha e Cintra. Dado que a consulente não especifica as razões da “confusão” provocada por se considerar o numeral ordinal como adjetivo, somos levados a supor que essas dificuldades terão que ver com o facto de que, como referem os autores citados, os numerais ordinais «substantivam facilmente». O exemplo de Cunha e Cintra é «Foi aí que se tornou a primeira de sua classe».
Apesar das dificuldades em estabelecer a distinção entre certos nomes e adjetivos (remeto, a este propósito, para o tópico de Inês Duarte sobre esta matéria em Gramática da Língua Portuguesa, de Mira Mateus e outras autoras), aquilo que acontece no caso dos numerais ordinais, como aquele que é apresentado na frase de Cunha e Cintra, é uma elipse nominal. Inês Duarte, na obra acima citada, refere que os quantificadores podem surgir com elipse nominal, isolados ou combinados com outros elementos» (ver p. 360):
«Todos [os doentes] saíram, mas alguns [doentes] voltaram.»
O mesmo parece acontecer com os numerais ordinais, neste exemplo que apresentamos:
«Os primeiros [doentes] saíram, mas os segundos [doentes] voltaram.»
Assim, poderemos considerar que os numerais ordinais parecem ter o mesmo tipo de comportamento que os modificadores de nome (ocorrem sob o domínio sintático do determinante, mas fora do sintagma nominal), funcionando com a propriedade comum de «restringirem a extensão do núcleo nominal » (Inês Duarte, p. 345).
Como também refere Inês Duarte, a propósito da elipse nominal de determinantes, «o conteúdo da categoria vazia tem de ser recuperado pelo contexto linguístico ou situacional». Assim, na frase apresentada por Cunha e Cintra, o numeral ordinal não tem a autonomia referencial de um nome: primeira pode ser «primeira aluna», «primeira licenciada», «primeira mulher» ou mesmo «primeira vítima» e «primeira baixa».
Concluindo, os numerais ordinais comportam-se sintaticamente como os outros quantificadores (por exemplo, podem ocorrer no mesmo contexto sintático os quantificadores dois ou primeiros, como nas frases «Comprei os dois [livros]»/«Comprei os primeiros [livros]» ou «Dei o livro a todos os primeiros três clientes de cada dia»). Contudo, a sua classificação como adjetivos no Dicionário Terminológico parece prender-se, acima de tudo, com o facto de serem flexionados (tal como os nomes e os adjetivos).