Nas gramáticas que possuo, nenhuma grafa os ordinais com hífen. Portanto, deve escrever, por exemplo, décimo primeiro e não «décimo-primeiro».
Mas tem razão nas suas dúvidas. O hífen na língua portuguesa chega, em certos casos, a ser arbitrário, dependendo do ponto de vista do lexicógrafo. E quando alguém idóneo se lembra de registar um hífen num dado conjunto, depois há relutância em o ignorar, pois isso pode ser considerado um erro ortográfico.
O meu critério é, nos termos em que há dúvidas, considerar o hífen só necessário se o conjunto formar um sentido único (ex.: cor-de-rosa, pois há rosas de várias cores); formar uma aderência de sentidos (ex.: tio-avô: pois trata-se de alguém que é as duas coisas); não estão no seu sentido habitual (ex.: cachorro-quente, pois não se trata dum cão). Sem esquecer que normalmente as locuções não têm hífen (ex.: a propósito, diferentemente do substantivo a-propósito).
E, claro, evito estabelecer por sistema relações lógicas, para não correr o risco de escandalizar as pessoas muito respeitadoras da história das palavras. Por exemplo, a lógica levar-nos-ia a escrever também «cor-de-vinho», visto que há vinhos de várias tons (tinto, branco, palhete…); mas, tradicionalmente, a grafia correcta/correta é cor de vinho, subentendendo-se que esta locução adjectiva se refere ao tom do vinho tinto.
O novo acordo, não obstante os seus defeitos, simplificaria muito as regras do hífen, aglutinando palavras que no seu conjunto formam uma unidade semântica (ex.: `autoestrada´) ou dispensando o hífen, desnecessário, noutros casos (ex.: `fim de semana´). Mas está na gaveta, uma parte por inércia, outra por conveniência económica.
Ao seu dispor,