1. Classe gramatical e uso
Na frase:
a) Tive dois oitos neste semestre.
elidem-se as expressões nominais dois resultados/duas classificações, assim:
a’) Tive dois resultados de oito.
a’’) Tive duas classificações oito.
Acresce que, com a elipse, a quantificação passa a recair sobre a palavra oito. Em face deste facto, podemos afirmar que oito é usado neste contexto como um nome, pois sabemos que as expressões nominais [nomes e adjetivos] são modificáveis por numerais cardinais. Mas não podemos dizer que oito é um nome, porque não é essa, de facto, a sua categoria gramatical.
2. Formação de plural
2.1. Em primeiro lugar é importante referir que as regras dos prontuários, sendo normativas, são apuradas pela observação da regularidade de usos.
O que se observa na esmagadora maioria dos casos é que o plural é marcado pela presença do sufixo -s. Esta regra funciona para oito – oitos pacificamente.
Observa-se também que os nomes terminados no singular em r, z, n e s (neste último caso, quando a palavra é aguda) fazem o plural em es.
No entanto, há palavras terminadas em -s e que são uniformes quanto ao número (ourives, alferes, lápis, cais, pires) ou que só se usam no plural (víveres, algemas, núpcias, trevas, alvíssaras, calças).
2.2. Vejamos as formas em causa:
b) Tive dois seis.
c) Tive dois dez.
Quer em b) quer em c) ocorre a elipse descrita em 1.
A não verificação da regra geral de formação do plural deriva do facto de seis e dez estarem a ser usados como nomes e não serem, efetivamente, nomes. Mas esta razão não chega, já que o mesmo acontece com oito, em a). Tem de haver outras razões.
2.2.1. Veja-se o caso de seis.
Podemos verificar que há muitas palavras que, por diferentes fatores, têm esta sequência fonética terminal [αjʃ] (correspondente à sequência gráfica eis) no plural: anéis, cordéis, túneis, fósseis, répteis, leis, etc). Podemos então dizer que a forma -eis já é sentida como plural.
2.2.2. Veja-se o caso de dez.
Podemos verificar que existe um maior número de casos em que o som [ɛʃ] (correspondente à sequência gráfica -és/ -ez) integra uma forma de plural – rés, pés, fés – relativamente a formas do singular como revés. Podemos então dizer que o som [ɛʃ] já é sentido como uma marca de plural.
Nota: as terminações em “-ez” realizam-se foneticamente com a vogal fechada (vez – vezes; xadrez – xadrezes; soez – soezes) e por isso são de mais difícil comparação com dez, nesta explicação.