A informação recolhida pela consulente encontra-se de facto na Infopédia, no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e, associada a informação sobre o árabe, surge também no Wiktionary. Trata-se de uma etimologia plausível e aceite, mas que ainda deixa muitas dúvidas, que não se encontram por enquanto esclarecidas.
A incerteza sobre a etimologia melancia é manifesta, por exemplo, no comentário que o destacado arabista espanhol Federico Corriente (1940-2020) dedicou à palavra em Diccionario de Arabismos y Voces Afines en Iberorromance (Madrid, Editorial Gredos, 2003):
«melancia (portugués, con la variante balancia) "especie de sandía de origen indio"; a pesar de estar documentada sólo a partir del siglo XVI y de su origen oriental, podería derivar del gentilicio andalusi balansiyyah "valenciana" [...] si tal variedad apareciera mencionada, lo que no parece hasta ahora ser el caso. Tal vez se trate de etimologías populares del andalusí mallísi, corrupción del [árabe] clássico imlīsī "de piel lisa", término botánico y de horticultura muy común» [tradução livre: «melancia (português, com a variante balancia) "espécie de melancia de origem indiana"; apesar de documentada apenas a partir do século XVI e da sua origem oriental, poderia derivar do gentílico andalusi balansiyyah "valenciana" [...] se tal variedade fosse mencionada, o que até agora não parece ser o caso. Talvez se trate de etimologias populares do andalusi mallísi, corruptela do árabe clássico imlīsī "de pele lisa", um termo botânico e hortícola muito comum.»]1.
Em português, a variante balancia tem registo na Revista Lusitana (vol. V, 1897-1899, p. 146). Também existem (ou existiam) as variantes melanciga e melangiga (ver Revista Lusitana, vol. XII, 1909, p. 314, e Guilherme Augusto Simões, Dicionário de Expressões Populares Portuguesas, Lisboa, D. Quixote, 1993).
1 Seguindo o que já é aceite na filologia espanhola, adota-se o termo andalusi (cf. dicionário da Real Academia Espanhola) para referir o árabe hispânico, que se desenvolveu entre os século VIII e XV nos territórios do centro e sul da Península Ibérica sob controlo árabo-muçulmano (Al-Andalus). A forma andalusi tem a vantagem de não se confundir com o gentílico andaluz, que denota o natural ou habitante da atual Andaluzia.