DÚVIDAS

Mau uso da língua

Mal uso da lingua. Acho o português uma das mais belas linguas e esforço-me bastante para fala-la da maneira mais correta, porém desaponta-me muito o modo de falar dos brasileiros; as pessoas cometem erros horríveis, tais como "não faz isto", "tu foi...", etc. Gostaria de saber se em Portugal há erros tão terríveis e se houver, quais os mais comuns? E o que vós pensais sobre o desgaste da língua? Mal uso da lingua. Acho o português uma das mais belas linguas e esforço-me bastante para fala-la da maneira mais correta, porém desaponta-me muito o modo de falar dos brasileiros; as pessoas cometem erros horríveis, tais como "não faz isto", "tu foi...", etc. Gostaria de saber se em Portugal há erros tão terríveis e se houver, quais os mais comuns? E o que vós pensais sobre o desgaste da língua?

Resposta

Tem razão quanto ao seu apreço pela nossa comum língua. Ela foi caldeada com os falares de muitos povos que passaram por este cantinho da Europa; e depois enriquecida nos múltiplos contactos/contatos, nesse mundo fora, feitos pelos nossos ancestrais ou nas variantes que os povos de língua oficial portuguesa lhe estão trazendo sempre.

Língua imensamente versátil e de ricos cambiantes na sua complexidade, permite jogos estilísticos e poéticos de grande beleza. É um língua terna e carinhosa; e o seu endereço electrónico/eletrônico dá um exemplo eloquente/eloqüente (Laurinha, Laurinha), amorável recurso de que os irmãos brasileiros usam com tanto empenho.

Erros? Claro que por cá também aparecem (bela, mas não fácil…). A editora portuguesa Texto publica um Prontuário, onde incluo cerca de 130 páginas de erros susceptíveis de serem cometidos pelo falante de português.

É facto/fato que os erros sintácticos/sintáticos são às vezes mais condenáveis que os ortográficos, é facto/fato que os descuidados `pontapés na gramática´, dados até por responsáveis, são uma grande causa de erosão da língua; mas, presentemente, o que mais me desagrada é a vassalagem aos termos de origem inglesa, com empobrecimento no uso dos nossos, e, sobretudo, a adaptação apressada desses termos estranhos, sem atender à índole do nosso idioma, modulado na sua harmonia por séculos de gerações.

O que acontece é que, à medida que vou estudando a língua, cada vez me sinto mais tolerante. Parafraseando S.to Agostinho: "vou corrigindo o erro, mas estimando os errantes". Nesse estudo, fui concluindo que muitos termos (ou expressões), considerados errados outrora pelos puristas, entraram já nos hábitos linguísticos/lingüísticos e não podem ser condenados assim tão peremptoriamente nos dias de hoje. Esses erros terríveis, que tanto a escandalizam, devem ser analisados com precaução, quando são a voz livre do povo (a quem o património/patrimônio linguístico/lingüístico também pertence...).

Termino com um conselho: Seja relativamente tolerante com os erros dos outros, mas muito, muito exigente com os seus. Veja, companheira da nossa comum língua: eu não escrevo «mal uso», mas mau uso, porque mal opõe-se a bem e é mau que se opõe a bom: bom uso, mau uso. Também escrevo línguas e não «linguas», falá-la e não «fala-la»; mas os acentos são uma convenção, e a sua mensagem foi perfeitamente recebida.

Mensagem que creio sem artifícios. Porque o seu nome me lembra Petrarca:

«Laura, ouro, louro…»

Ao seu dispor,

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa