Nas obras consultadas sobre este assunto, nada encontrei. Vejamos então:
1) É de regra começarmos um período iniciando-o com letra maiúscula.
2) O ponto de interrogação e o de exclamação terminam períodos. Portanto, o período seguinte iniciar-se-á com letra maiúscula.
3) Mas, por ex., nos romances e nas histórias (e não estórias), a seguir à exclamação ou interrogação, vêm algumas palavras do narrador para elucidação do leitor, precedidas de travessão. Quando tal acontece, escreve-se minúscula depois do ponto de interrogação ou exclamação.
Exemplos de dois escritores nossos, que foram professores de Português:
Virgílio Ferreira, «Até ao Fim» – 3.ª Edição.
(a) Já viram! – diz ela lá para dentro. (p. 16)
(b) Vai-se demorar? – perguntou ainda. (p. 29)
José Régio, «Uma Gota de Sangue» – 4.ª Edição.
(c) Com certeza chorou! – diziam. (p. 92)
(d) Coração ao alto! – confirmou Lélito estreitando-lhe a mão (...). (p. 135)
(e) O senhor director dá licença? – perguntou o senhor Barros a (...). (p. 136)
Também aparece letra minúscula, quando o ponto de interrogação ou de exclamação está dentro da própria frase, e não no fim:
(f) Fala franco!, se és meu amigo. (p. 198)
Mas, não raro, os pontos de interrogação e exclamação podem-se encontrar dentro da própria oração. Vejamos estes exemplos do mesmo autor em «As Raízes do Futuro», 3.ª edição:
(g) Menina Angelina! ó menina Angelina! (p. 104)
(h) O quê?! tu vens proibir-me de falar... a mim..., na minha própria casa? (p. 199)
Na frase (f), o ponto de exclamação está no fim da 1.ª oração. A vírgula separa as duas orações.
Nos exemplos (g) e (h), se não houvesse os pontos de interrogação e exclamação, poderíamos pôr uma vírgula.
Nas frases de (a) a (c), os pontos de interrogação e admiração estão separados, do que se lhes segue, por um travessão; e por uma vírgula em (f). Compreende-se.
Há muito mais que dizer sobre isto, mas vamos às frases da consulta:
a) Não parece que ficaria bem iniciar por minúscula a frase «Qual seria?», visto tratar-se duma oração independente.
b) Depois da palavra «assim», podemos pôr um ponto de interrogação, mas o sentido é outro, pelo menos é o que parece.
Conforme está escrito, podemos entender deste modo: «não falamos assim, por causa do sentir da língua?»
Com o ponto de interrogação: «Estariam erradas, porque não falamos assim? Ou pelo sentir da língua? Ou pelas duas coisas?»
O tal ponto de interrogação pode dar azo a interpretações diferentes.
Quanto à obrigatoriedade (ou quase obrigatoriedade) de iniciar a frase por letra maiúscula depois dos pontos de interrogação e exclamação, está explicado o essencial com os exemplos de (a) a (e). Quanto aos outros casos, depende bastante da intenção de quem escreve. Estamos, porém, à disposição do nosso consulente Carlos Ferro para qualquer esclarecimento que o Ciberdúvidas possa dar.
Frases de Machado de Assis
A explicação é mais ou menos a que apresentou o nosso prezado Carlos Ferro. Vejamos então as frases:
(a) (...) Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios.
(b) (...) Tenham paciência! daqui a pouco lhes direi quem era a terceira senhora.
Em (a), temos duas frases distintas. Por isso, a segunda, como é uma nova frase, começa por letra maiúscula.
Na primeira frase, falta o verbo, mas podemo-lo lá pôr: Éramos onze amigos!
Em (b), não há motivo para se escrever com inicial maiúscula a segunda parte dessa frase. De facto, se suprimirmos o ponto de exclamação, substituí-lo-emos por uma vírgula para separar as duas orações.