O verbo ser é um verbo muito especial que nos coloca questões nem sempre de resposta fácil. Além de auxiliar da voz passiva e de verbo copulativo, pode ainda ser considerado verbo pleno, ou seja, veiculando sentido em si mesmo. O Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e o Dicionário Houaiss estabelecem esta divisão e referem que, como pleno, o verbo ser permite
A localização no espaço:
(1) A serra da Estrela é em Portugal.
(2) A minha casa é aqui.
A localização no tempo:
(3) O casamento é hoje.
(4) O casamento é ao meio-dia.
(5) É Natal. (aqui como impessoal)
Indicar posse:
(6) O livro é do João.
Indicar apoio:
(7) Eu sou pelo Benfica.
Etc.
Note-se ainda que, quando estabelece uma localização, o verbo ser permite com muita facilidade uma alteração entre a posição do sujeito e a do complemento. Pode dizer-se: «A minha casa é aqui.» Mas também, e talvez com mais frequência, se diz: «Aqui é a minha casa.»
O exemplo que a consulente apresenta estabelece uma localização no tempo. O verbo ser pode, pois, ser considerado como verbo pleno e não como copulativo. E se não é copulativo não tem predicativo, mas um complemento circunstancial. O que parece estranho no exemplo da consulente é o facto de ambos os complementos designarem tempo. Mas se compararmos com o exemplo (3) que repetimos como (8), talvez se torne mais fácil a análise dos constituintes da frase:
(8) O casamento é hoje
(9) Hoje são 05 de Setembro.
Eu analisaria a frase em apreço da seguinte forma:
05 de Setembro – sujeito
são – predicado (simples)
hoje – complemento circunstancial de tempo
O plural do verbo, que contraria a realidade pois 5 de Setembro é um só dia, justifica-se pelo sentido plural que o número cinco veicula.
Devo ainda dizer que a análise que acabo de fazer não é consensual. Muitos gramáticos não reconhecem o verbo ser como verbo pleno e incluem vários dos exemplos aqui apresentados na construção copulativa. Para exemplos como (6) e (7) é apresentado apenas o significado e não a estrutura sintáctica.
Por outro lado, Ana Maria Brito, na Gramática da Língua Portuguesa de Mira Mateus e outras, 2003, 5.ª edição, diz na página 425:
«… alguns advérbios parecem ocupar a posição de sujeito frásico, como em […] Hoje é dia 12 de Julho.»
Esta é, pois, uma resposta. Não é, nem pretende ser em matéria tão pouco consensual, a resposta.