Os termos «forma negativa» e «forma afirmativa», referidos a frase, usaram-se durante algum tempo nas gramáticas escolares portuguesas, mas actualmente o Dicionário Terminológico (DT) apresenta o termo polaridade, que corresponde a dois valores, afirmativo e negativo. Casos como o do verbo negar, em que a negação se integra na semântica da unidade lexical, não estão explicitamente contemplados no DT, quando aqui se identificam os meios de expressão da polaridade negativa (geralmente marcados pelo advérbio de negação não e de outras palavras e expressões de valor negativo, como ninguém, nada, nunca, lá — «sei lá!»).
Pergunta-se então: um enunciado em que ocorre um verbo de valor negativo tem polaridade negativa? A resposta é não, conforme se lê em M.ª Helena Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, 2003, pág. 783:
«[...] os verbos de sentido negativo não determinam polaridade negativa nas frases.»
Este fenómeno é evidenciado por frases coordenadas com a expressão de polaridade positiva também (idem, pág. 782; exemplos da pág. 783 — o asterisco indica agramaticalidade):
1. «Ele negou o ocorrido, e ela também» (* «ela também não»)
2. «A Ana deixou de ler o livro, e o irmão também» (* «e o irmão também não»)
Este teste pode ser aplicado à frase em questão com os mesmos resultados (o facto de a frase se encontrar na voz passiva não é relevante para a discussão):
3. «A entrada do Fidalgo na barca do Paraíso tinha sido negada pelo Anjo, e a do Judeu também.»
Por conseguinte, o uso do verbo negar não determina a polaridade da frase em 3, que tem valor afirmativo.