O assunto talvez não seja tão simples como parece. Vejamos a primeira frase:
01) A flexão de género em ateu > ateia/atéia e em judeu > judia provoca uma alteração nos radicais.
Segundo o «Dicionário Gramatical da Língua Portuguesa» de Celso Pedro Luft, brasileiro, o radical é a «parte da palavra que resta quando se eliminam as desinências e a vogal temática», quando esta existe, claro.
Depois apresenta os seguintes exemplos: «civiliz- (em civilizar, civilizamos, civilizaremos, civilizei, etc.)».
É evidente que em civil, civilidade, civilismo, civilista, o radical é outro: civil-.
Segundo esta doutrina, temos o radical ate-, e não atei-, porque este i pertence aos sufixos: ate-ismo, ate-ista, ate-ístico, ate-izar; em ateização, temos o radical ate- + dois sufixos: -iza(r) e -ção: ate-iza-ção.
Em ate-u, temos o mesmo radical, pelo menos parece.
Em ateia, temos o radical ate- e a desinência do feminino -a. O -i- é apenas uma vogal de ligação. Sem a vogal de ligação, teríamos o feminino atea. Para evitar o hiato ea, deu-se a epêntese do i.
Como vemos, o feminino ateia não provocou alteração do radical – pelo menos é o que parece.
Vejamos agora o caso de judeu/judia.
Se fizermos uma lista de palavras da família de judeu, verificamos que a raiz é jud, mas que há vários radicais, conforme vemos nas alíneas seguintes:
a) jud-eu jud-aico |
b) ajudeuz-ado | c) ajudeiz-ar ajudeiz-ado |
d) juda-ismo | e) judaiz-ante judaiz-ar |
f) judi-aria judi-ação judi-ar |
Quanto a judia não parece que seja flexão de judeu, mas sim importação do castelhano 'judia', feminino de 'judío', segundo informa o Dicionário Etimológico de José Pedro Machado. E talvez seja verdade, porque o mesmo dicionário menciona um documento de 1328, em que há o feminino judea. O que será preferível? Pôr de lado judia ou integrá-la na família de judeu?
Vejamos a outra proposição:
02) A palavra «rejuvenescer» apresenta, simultaneamente, o prefixo «re-» e o sufixo «-escer».
Em rejuvenescer não há, realmente, a simultaneidade do acrescentamento de re-+-escere, porque este verbo, segundo o «Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa» de José Pedro Machado, provém do lat. 'juvenescere', a que se acrescentou o prefixo português re-. É termo usado em 1890, segundo o referido dicionário.
Também não parece formado de re-+juvenescer, porque este verbo está mencionado como neologismo na 10.ª edição do Dicionário de Morais de 1948.