Usa-se a expressão interrogativa “És de Braga?” quando se pretende recriminar alguém porque deixou a porta aberta.
Diz-se em Braga que essa expressão se deverá à existência nessa cidade, numa das artérias mais famosas, do Arco da Porta Nova, que, como é usual nos tempos de hoje, não tem porta. Por aquele arco passam os bispos e arcebispos em direcção ao paço episcopal. Braga seria, pois, uma cidade de portas abertas à passagem de figuras gradas, ilustres, que aí vivem. Assim, se alguém deixa a porta aberta, é recriminado porque esse gesto parece revelar que se julga muito importante.
Outra explicação remonta ao século XIV e faz evocar uma figura ilustre da história da cidade. “És de Braga?” será uma forma simplificada da expressão “És de Braga e chamas-te Lourenço?”, ainda usada no início do século XX para ridicularizar alguém que se considera importante sem o ser ou que se julga mais esperto do que os outros.
Importante, ilustre, famoso fora D. Lourenço, arcebispo de Braga no século XIV. Este arcebispo ficou famoso por vários motivos. Homem muito culto, que frequentara as universidades de Toulouse, Paris e Borgonha, foi eleito arcebispo de Braga no reinado de D. Fernando. Aí, teve uma actuação enérgica contra os abusos que os nobres praticavam nas igrejas, a pretexto de serem seus padroeiros, o que os levou a queixarem-se ao rei, que pediu a sua destituição ao papa. O papa Gregório XI nomeou visitadores, que se pronunciaram desfavoravelmente em relação ao arcebispo, tendo-os este excomungado. Como foi destituído do governo do arcebispado, partiu para Roma – onde fora eleito o novo papa, Urbano VI – a pleitear a sua causa. A argumentação foi bem sucedida, a sentença dos visitadores anulada, e o rei D. Fernando restituiu-lhe a jurisdição da cidade de Braga. Mais tarde, acompanhou o Mestre de Avis na guerra contra Castela, interveio no sentido da sua aclamação em Coimbra e combateu na batalha de Aljubarrota, onde foi ferido. Foi notável conselheiro deste rei D. João I. Jaz na Sé de Braga, num túmulo que mandou construir para si.
Ser-se de Braga e chamar-se Lourenço significava, portanto, ser-se aquela pessoa ilustre, diante da qual “as portas se abriam”, capaz de conseguir tudo o que pretendia. Assim, ao perguntar-se a alguém, ironicamente, se é de Braga e se chama Lourenço, está a pretender criticar-se essa pessoa, está a pretender dizer-se-lhe que essa pessoa não se julgue acima do que é, que não se considere mais esperta do que os outros, pois não é nenhum D. Lourenço de Braga.
Posteriormente, a expressão simplifica-se e passa a ser usada apenas na situação em que se faz um comentário jocoso porque alguém deixa a porta aberta, pretendendo dizer-se que a pessoa se julga tão importante que, abrindo-se as portas à sua passagem, ela nem se digna fechá-las, ou porque alguém o fará por ela, ou porque as portas abertas de par em par mostram a importância de quem por elas passa.
Cf. “És de Braga?” Ou estás a vê-la por um “canudo”? Dizeres de Braga inspiram postais
N.E. O consulente escreve segundo a Norma de 1945.