As perguntas que faz relacionam-se com uma área científica denominada de Prosódia. Prosódia diz respeito ao «estudo da natureza e funcionamento das variações de tom, intensidade e duração na cadeia falada». (Associação Portuguesa de Linguística e Instituto de Linguística Teórica e Computacional, Dicionário de Termos Linguísticos, vol. 1, Edições Cosmos.) Uma vez que é uma área científica que requer um vasto leque de conhecimentos linguísticos muito específicos, não será fácil explicar-lhe aquilo que pede sem recorrer a figuras (nomeadamente quando se refere aos «tipos de oração»).
Em primeiro lugar, é necessário saber quais são os constituintes prosódicos:
«Constituintes Prosódicos – se considerarmos uma sequência sonora constituída por mais do que uma palavra lexical, verificamos que as proeminências acentuais se distribuem ao longo dessa sequência estabelecendo uma hierarquia de proeminências. Nessa hierarquia, cada nível de proeminência corresponde a um constituinte prosódico. Cada constituinte prosódico integra, assim, uma proeminência principal, designado núcleo, e zero, uma ou múltiplas proeminências de nível prosódico inferior. A hierarquia de constituintes prosódicos que define a organização fonológica de uma língua é a seguinte: sílaba, pé, palavra prosódica, sintagma fonológico, sintagma entoacional, enunciado. Os constituintes abaixo do nível da palavra são constituídos com base em informação puramente fonológica. A palavra prosódica, por sua vez, constitui o domínio privilegiado de interface entre a fonologia e a morfologia e léxico. Acima do nível da palavra, informações de outros domínios linguísticos dão um contributo crucial para a construção dos constituintes prosódicos: os sintagmas fonológico e entoacional constituem o domínio da interface entre a fonologia e a sintaxe, enquanto ao nível do enunciado interagem também informações fonológicas e semântico-discursivas.» (Sónia Frota e Marina Vigário, sem publicação.)
Quando se refere a «grupo fónico», tem de ser mais específica, pois essa designação pode variar dependendo do contexto em que está inserida e dependendo também do quadro teórico em que a Fátima a inserir. Já no que diz respeito a «grupo acentual», este é uma «sequência de sílabas constituindo uma unidade rítmica e contendo um acento primário.» (Associação Portuguesa de Linguística e Instituto de Linguística Teórica e Computacional, Dicionário de Termos Linguísticos, vol. 1, Edições Cosmos)
«Se ultrapassarmos os limites da palavra isolada para analisarmos o acento ao nível da frase, poderemos eventualmente encontrar frases em que cada palavra possua um acento: Lis’boa ‘tem ‘sete co’linas. Normalmente, contudo, a unidade acentual, ou seja, a sequência dentro da qual incide o acento, é mais vasta do que a palavra, integrando vocábulos não acentuados como artigos, preposições, conjunções, alguns advérbios, numerais e pronomes. Marcamos essas unidades acentuais com barras verticais: Já ‘viste | a ci’dade | de Lis’boa | ao pôr-do-‘sol? As palavras não acentuadas podem receber um acento quando empregadas em metalinguagem, ou quando enfatizadas por motivos de ordem semântica: ‘Pode classifi’car-me esse ‘"que"? Não é "‘uma» fa’mília. É "‘a" fa’mília! Dentro dos limites da frase, alguns acentos têm valor relativo ao dos outros. São chamados acentos nucleares; nos exemplos seguintes, incidem sobre sílabas que se encontram sublinhadas: Então ainda estás na cama a estas horas? Hoje à tarde há uma sessão de cinema. Em torno dos acentos nucleares formam-se grupos fonéticos que por vezes são separados por pausas: Hoje à tarde | se não me engano | há uma sessão de cinema. Maria | não tenhas vergonha | aparece à janela! Naquele dia | às dez horas ! houve um acidente de automóvel». (Maria Helena Mira Mateus, Ana Maria Brito, Inês Duarte, Isabel Hub Faria, Gramática da Língua Portuguesa, Edições Caminho)
Também a sua referência à «unidade melódica» é algo vaga. No entanto, penso que se quer referir ao sintagma entoacional. «Um ou mais sintagmas fonológicos formam o constituinte hierarquicamente superior, o sintagma entoacional. (...) A entoação de uma sequência, isto é, a melodia com que ela é pronunciada, é fonologicamente constituída por uma sucessão de categorias tonais em que se destacam os acentos tonais e os tons de fronteira. Os primeiros são eventos tonais que se associam a elementos proeminentes dos constituintes prosódicos. Os segundos são elementos que se ligam a fronteiras de constituintes prosódicos. Quer uns, quer outros apenas podem constituir categorias simples, isto é, monotonais, ou categorias complexas, isto é, bitonais. Foneticamente, uma sequência de categorias tonais manifesta-se através do traçado contínuo do contorno da frequência fundamental.» (Sónia Frota, sem publicação)
«A entoação pode ser definida como a forma de associação dos acentos de palavra numa sequência que é a frase. Poderíamos assim falar de acento de palavra e acento de frase. No entanto, aqui é que se podem colocar as questões fundamentais relativas à entoação: qual a relação do acento de palavra ao acento de frase? Ou será a entoação que determina o acento da palavra na frase? Podemos ainda pôr a questão de saber a que nível se organiza a entoação? Será no nível fonético, fonológico, sintáctico ou semântico? Como se manifesta e se sistematiza a expressividade, através da entoação: expressão irónica, zangada, afectuosa... questões que não obtêm uma resposta única.» (Maria Raquel Delgado Martins, Ouvir Falar – Introdução à Fonética do Português, Edições Caminho)
«Entoação – utilização de tipos de tons recorrentes, cada um dos quais com um conjunto relativamente consistente de significados, quer em palavras isoladas, quer em grupos de palavras de dimensões variadas. A organização entoacional destes tipos de tons está directamente relacionada com a proeminência relativa pela qual se encontram estruturados ritmicamente. A entoação pode ainda ser entendida como um traço tonal que se refere à presença de um acento nuclear.» (Associação Portuguesa de Linguística e Instituto de Linguística Teórica e Computacional, Dicionário de Termos Linguísticos, vol. 1, Edições Cosmos)
Por fim, quando se refere aos «tipos de oração», penso que pretende saber como se relaciona a entoação com os diferentes tipo de frases que produzimos. Será? Se assim for, é necessário perceber o que se entende por «variação de altura». «A variação de altura – decorrente da variação da frequência fundamental do som – pode dar-se no sentido ascendente, descendente, ascendente-descendente e descendente-ascendente e ainda manter-se nivelada. Este factor é, muitas vezes, o que de forma mais imediata nos permite perceber se uma determinada frase exprime uma interrogação, uma afirmação, uma dúvida ou uma ordem. A variação no sentido ascendente caracteriza a pergunta, exprime incompletude, incerteza; quando a curva de entoação desce – na afirmação, na ordem, na exclamação – exprime-se uma certeza, uma conclusão. (...) Se a interrogação for marcada gramatical ou lexicalmente, a variação de altura faz-se em sentido descendente, aproximando-se da afirmação.» (Maria Helena Mira Mateus, Ana Maria Brito, Inês Duarte, Isabel Hub Faria, Gramática da Língua Portuguesa, Edições Caminho)
Para um primeiro contacto com a Prosódia, recomendo-lhe a consulta dos seguintes livros:
1) Associação Portuguesa de Linguística e Instituto de Linguística Teórica e Computacional, Dicionário de Termos Linguísticos, vol. 1, Edições Cosmos;
2) Isabel Pereira, Ana Isabel Mata, Maria João Freitas, Estudos em Prosódia, Edições Colibri;
3) Maria Helena Mira Mateus, Ana Maria Brito, Inês Duarte, Isabel Hub Faria, Gramática da Língua Portuguesa, Edições Caminho;
4) Maria Raquel Delgado Martins, Ouvir Falar – Introdução à Fonética do Português, Edições Caminho.
Para investigações mais específicas e pormenorizadas, recomendo que procure os estudos da Prof.ª Doutora Sónia Frota, docente na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa e da Prof.ª Doutora Marina Vigário, docente na Universidade do Minho. A nível internacional, pode ainda debruçar-se sobre as investigações de Marina Nespor e Irene Vogel, Selkirk, Hayes.