«Endorreia» não é palavra nova. É a forma cáustica de alguns gramáticos se referirem ao abuso do gerúndio. Creio ter sido criada por analogia com diarreia e encontra-se, por exemplo, na página 142 do prontuário de Magnus Bergstrom e Neves Reis (Editorial Notícias, 6.ª edição).
Esta crítica não abrange, contudo, a tendência que se nota no Alentejo (e no Brasil) para o emprego do gerúndio em locuções perifrásticas, como, por exemplo: «Maria estava estudando Matemática», em vez de «Maria estava a estudar Matemática». São legítimas ambas as construções.
Abonam o gerúndio, em certos casos, prosadores como Manuel Bernardes, Alexandre Herculano, Júlio Dantas, e linguistas como Rodrigues Lapa.
O mesmo se não pode dizer, por exemplo, de frases semelhantes a «os jornalistas 'vêm-se ocupando' de assuntos económicos» , quando o que se pretende escrever é: «Os jornalistas têm-se ocupado de assuntos económicos». Para se mencionar uma acção iniciada, mas ainda não concluída, o indicado é o pretérito perfeito composto.
Permito-me fazer uma recomendação: pelo menos em Portugal, evitem-se construções em que entrem formas como vêm-se, excepto quando o autor queira mesmo afirmar o que o verbo vir significa na função reflexa. Não se escreva «têm-se vindo a sentir», mas têm-se sentido.
Já não é problema de gerúndio (vindo, aqui, é particípio passado). É questão de gosto.