A análise desse que não é consensual entre os gramáticos, embora tudo aponte para que se trate de um pronome relativo.
Evanildo Bechara, na sua Moderna Gramática Portuguesa, Editora Lucerna, Rio de Janeiro – 2002, 37.ª ed., Pág. 525, inclina-se para que se trate de um pronome relativo, posição defendida por Epifânio Dias:
«Para Epifânio, o que é pronome relativo, e julgamos que com ele está a razão [cf. Sintaxe Histórica Portuguesa, parágrafo 91, c)]: "Na qualidade de nome predicativo ou aposto, pode (o pronome relativo) referir-se a adjetivos (ou particípios), servindo de realçar a qualidade ou estado: acabada que esteja a obra” (cf. ainda a Gramática Francesa, parágrafo 282, 2, Obs. 1.ª).»
Outros autores consideram-na uma conjunção de valor causal ou temporal. No entanto, este valor mantém-se na frase, se tirarmos o que: «Elucidados sobre o pacifismo, passemos à questão seguinte.» – ou seja, esse valor é dado pelo particípio que integra a expressão.
Para além disso, o valor conjuncional do que já não se aplicaria a uma frase do tipo: «Que idiota que eu sou!», enquanto que o de relativo, sim.
É também esta a análise da gramática francesa, segundo a qual, na frase «Idiot que je suis!», o adjectivo qualificativo “idiot” é o antecedente do pronome relativo que (cf. Grammaire Pratique, de Albert Hamon, Usuels Hachette, 1983, pág. 103).
Finalmente, também na Nova Gramática do Português Contemporâneo, de C. Cunha e L. Cintra, Edições João Sá da Costa, pág. 343, encontramos exemplos de pronome relativo – com um adjectivo como antecedente – cuja função é a de predicativo: «As opiniões têm como as frutas o seu tempo de madureza em que se tornam doces de azedas ou astringentes que dantes eram.»