Para responder à sua questão, bastar-me-ia dizer que a linguística moderna considera que as comunidades são soberanas no uso da sua língua. É isto que justifica a evolução e o facto de se dizer que a língua é um organismo vivo, o que relativiza a noção de `incorrecto do ponto de vista histórico´.
Como, porém, é óbvio que o companheiro João Barroca estima a sua língua, merece que me alongue um pouco mais.
Na verdade, os falantes não podem mudar a língua indiscriminadamente, pois ela apresenta rigidez na necessidade de os vários grupos e gerações duma comunidade se entenderem, o que implica alguma conservação sempre, caso contrário poderíamos ter simultaneamente grupos e estratos de idades com linguagens tão diferentes, que seria muito difícil comunicarem eficazmente.
No entanto, sublinha-se sempre que os signos linguísticos são arbitrários. Convenciona-se entre todos os falantes, numa altura, que determinado conceito é expresso por um certo significante; mas este, nesta sua arbitrariedade, pode mudar com o tempo e com o lugar, na forma e na pronúncia, para exprimir a mesma ideia, se for essa a decisão dos falantes.
Por exemplo, hoje já não se aceita que o grego ou o latim imponham dogmas na língua e que se considere ignorante quem não os respeita, pois muito poucas pessoas dominam já essas línguas.
Compreendo as suas objecções, mas devo confessar que não me repugnam nada as duplas grafias e as duplas pronúncias que o escandalizam. Estas duplicidades são um meio que a língua utiliza para não fazer mudanças radicais. O nosso léxico apresenta vários casos destes (já consagrados nos dicionários, como por exemplo túlipa/tulipa, etc.).
Os dicionários também sempre registaram formas nas quais o uso acabou por ignorar a forma vernácula, que já nem aparece, ou é considerada pouco usada (também um exemplo: Rebelo Gonçalves, entre outros casos semelhantes, citava, em 1967, que se escrevia (e escreve hoje) azimute, mas que se deveria escrever azímute [forma que já nem aparece em dois dos dicionários idóneos mais recentes]).
Também comigo se tem passado evolução semelhante. Na minha recente resposta «Disjuntor e chave disjuntora», aparece, mesmo no fim, o termo termóstato, emenda feita pelo revisor de Ciberdúvidas, que eu não quis contrariar, dada a sua meritória preocupação com a vernaculidade; mas olhe que eu tinha escrito termostato e só uso já a palavra como paroxítona (grave). Já vê...
Continue a escrever-nos. Ciberdúvidas agradece a contribuição de todos os seus leitores. Pois é `esta comunhão alargada no estudo da língua´ que nos vem ajudando sempre na busca do meio-termo de sensatez, às vezes bem difícil de encontrar.
Ao seu dispor,