O uso da forma verbal «vomita» em vez de «conta já essa história toda» é, antes de mais, um disfemismo, que consiste no «uso de palavras ou expressões de carácter rude, repugnante, desagradável, agressivo ou horrível», recurso estilístico que, «contrariamente ao eufemismo, que suaviza e atenua o que é considerado obsceno ou de mau gosto, visa ferir determinados tabus de ordem religiosa, moral e social, [razão pela qual] as expressões (dis)femísticas são consideradas formas de desbragamento linguístico» (E-Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia).
De fa{#c|}to, embora pareça estarmos perante uma metáfora — porque há aí a fusão de duas realidades e «uma deslocação de sentido de palavras através do termo intermédio subentendido» (João David Pinto Correia, «A Expressividade na Fala e na Escrita», in Falar melhor, Escrever melhor, Lisboa, Sele{#c|}ções do Reader´s Digest, 1991, p. 502) — e, também, de uma hipérbole, devido à amplificação que a palavra «vomita» transmite, a realidade é que o disfemismo, neste caso, concentra os dois valores das duas figuras de estilo propostas.
Para além disso, para que não haja réstia de dúvida de que nos encontramos em presença de um disfemismo, basta relacionarmos a forma «vomita» com os campos semânticos a que está associada, remetendo para enjoo, náusea, violência, nojo…, termos do domínio desagradável da escatologia.