No discurso oral, na interacção verbal, a ênfase é muitas vezes dada pela deslocação das palavras no interior da frase. A mudança de determinado elemento na frase em relação à posição esperada vai evidenciá-lo, realçá-lo. Na resposta, vou utilizar a sua numeração: (2) a. – Poderá utilizar-se esta construção. O facto de o falante colocar o pronome "me" antes do advérbio de negação é revelador da importância que aquele dá ao que está a sentir, ao efeito que acção tem sobre si. (2) b. – Não será aceitável esta construção. Já está dado realce ao pronome pessoal com a anteposição em relação ao advérbio de negação. Ele não deverá antepor-se a dois advérbios. Antepor-se a um já é desvio suficiente em relação à posição esperada. O advérbio de tempo "ainda" ou fica onde está (ainda me não, ainda não me) ou é colocado imediatamente após a forma verbal (tu não me disseste ainda, acho que tu me não disseste ainda). A anteposição em relação ao verbo salienta essa circunstância temporal. (3) a. e b. – Poderá utilizar-se a construção (3)a.. A colocação do pronome que tem a função de complemento indirecto (te) antes do sujeito (eu) vai evidenciar a responsabilidade dessa 2.ª pessoa. Na frase (3)b., seria aceitável introduzir o advérbio "já" antes do verbo, construção normal das frases com este advérbio (eu já disse). No entanto, a construção com anteposição simultânea do advérbio e do pronome, pretendo realçar dois elementos diferentes (o pronome e a circunstância temporal) não é usual. Considero ser de realçar apenas um dos elementos. (4) a. e b. – Na escrita, utilizamos "Eu ontem disse-lhe." e "Isso já eu ontem lhe disse.". O advérbio "ontem" tem, pois, uma colocação normal antes do verbo, e o pronome "lhe" deve ficar em posição proclítica quando a frase se inicia por um sintagma que não o sujeito, como é o caso do meu segundo exemplo. A posição ainda mais anterior deste pronome pode aceitar-se, antecedendo o sujeito na frase b. e poderia aceitar-se antecedendo a própria circunstância temporal na frase a., constituindo formas de realçar a responsabilidade dessa 3.ª pessoa (mais importante que o sujeito, mais importante que a circunstância temporal). No entanto, eufonicamente, a frase (4) a. não é agradável. (5) a. e b. – Não é aceitável nenhuma das construções, por causa do valor do advérbio "realmente", ele também com função expletiva. Esse "realmente" deverá situar-se antes da situação que ele evidencia, assim: "Realmente, eu já lhe tentei explicar..."; "Eu, realmente, já lhe tentei explicar isso..." "Realmente, olha que já me perguntaram isso uma vez." "Olha que, realmente, já me perguntaram isso uma vez." (6) a. e b. – "Ontem" pode ser colocado antes do verbo (ex.: ontem. alguém me disse que...). O advérbio "ainda", porque reforça o advérbio "ontem", deverá ser-lhe anteposto (ex.: ainda ontem alguém me disse que...; alguém ainda ontem me disse que...), não se introduzindo nada a separá-los. A colocação proclítica do pronome "me" decorre da utilização do pronome indefinido (alguém) como sujeito. A colocação ainda mais anterior desse pronome não é aceitável em conjugação com os advérbios ainda e ontem, conforme refiro a propósito de (2)b., (3)b. e (4)a. Assim, não será de aceitar nenhuma destas construções. A concluir, direi que a gramática do português falado está em permanente construção, dado o carácter dinâmico desta forma de realização da língua.