Do ponto de vista da formação da palavra, nada a obstar. As reservas colocam-se (e colocam-nas os drs. José Neves Henriques e Fernando Peixoto da Fonseca, por exemplo) apenas para o sentido que refere, um modismo muito ao gosto de certa intelectualidade mais pedante. Se há, já, analisar, decompor, criticar, deitar abaixo, escalpelizar, esmiuçar, etc., ambos questionam o interesse de uma nova palavra que não só é desnecessária no nosso léxico como complica o entendimento comum. Mas como, por regra, quem a utiliza nessa acepção está longe de querer ter um discurso claro (exactamente para melhor "desconstruir" o dos outros)…
Diferente (porque corresponde ao vocabulário comum de toda a gente, não sendo por isso já considerado um jargão profissional) é o novo significado que desconstruir passou a ter em Angola e Moçambique, a exemplo de outros casos similares de pura inventiva popular. Ou como resultado do desconhecimento comum do respectivo antónimo mais adequado, não importa. Está consagrado pelo uso generalizado: todos o entendem, e não apenas uma classe muito minoritária e específica. Os escritores Pepetela e Mia Couto recorrem frequentemente a este tipo de derivação a partir do prefixo des- para ajustarem o contrário de uma dada palavra já conhecida (conseguir/desconseguir).